Cinema brasileiro: de Hollywood a Bollywood
Leonardo Brant
Depois de uma desastrosa política, que tornou o cinema brasileiro ainda mais dependente das majors hollywoodianas, por meio da ampliação de incentivos, submetendo os produtores desejosos da tela grande ao sabor dos “gigantes”, o governo agora investe em outro padrão de mercado, o de Bollywood, da Índia. E acredita num mercado mais ativo e baseado no consumidor de baixa renda.
Foi assim no começo de Hollywood. Os nickelodeons, ou os templos das moedas, como eram chamadas as salas de cinema, se popularizaram e se constituíram no ponto de encontro do norte-americano médio. Dali surgiu o segundo maior mercado dos Estados Unidos, capaz de abocanhar 85% de presença de tela em todo o mundo. E é assim hoje na Índia. Com um parque exibidor monumental, com a maior produção do mundo (cerca de 800 filmes por ano), Bollywood é um dos poucos mercados locais a manter-se protegido da onipresença norte-americana.
Não é apenas a desoneração fiscal e a oferta de crédito mais acessível que vai levar à abertura de 600 salas de cinema em quatro anos, meta do governo federal com o programa “Cinema Perto de Você”. A aposta é que a linha de crédito, a desoneração e todo o suporte dado pelo governo, somados à realidade econômica do país – com a classe C crescente e com grande poder de consumo – e à chegada de novas empresas exibidoras ao mercado, instalem um cenário de alta competição ao setor de exibição cinematográfica, explica o presidente da Ancine, Manoel Rangel. “A gente acredita que este cenário é capaz de quebrar o conservadorismo que estava instalado nos executivos das empresas exibidoras no Brasil.
Esse conservadorismo era alimentado pelo alto custo do dinheiro, pela descrença no poder de consumo da classe média e até por uma política de convivência entre os grupos. A competição pode gerar um círculo virtuoso de crescimento do mercado similar aos efeitos que a competição provocou no mercado mexicano a cerca de dez anos”. O mercado mexicano tinha 1,3 mil salas de cinema em 1997, hoje tem 4,4 mil.
Por conta do cenário vislumbrado por Rangel, ele acredita que o setor não se tornará dependente de incentivos. “O incentivo vai dar capacidade ao empresário brasileiro de entrar na competição – as empresas são descapitalizadas, na grande maioria, e ainda precisam modernizar suas gestões – e dar um arranque na expansão. A competição por si deve atrair capital de investidores”, diz.
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