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quarta-feira, 23 de março de 2011

PRÓXIMA SEXTA NO CINE EVEREST

SEXTA, 25 DE MARÇO
O CINE EVEREST APRESENTA:

OS MATADORES 
(confira abaixo a entrevista com o roteirista do filme, Marçal de Aquino)
curta metragem: Sinistro

CINEMA NACIONAL

À PARTIR DAS 19:00

ENTRADA FRANCA

ONDE?
SALÃO COMUNITÁRIO DA SAMEST
RUA PICO DAS BANDEIRAS, 200
JD. EVEREST- HORTOLÂNDIA- SP

REALIZAÇÃO: OCA
PARCERIA: MINISTÉRIO DA CULTURA E SAMEST
APOIO: PREFEITURA MUNICIPAL DE HORTOLÂNDIA

www.cineverest.blogspot.com

título original: (Os Matadores)
lançamento: 1997 (Brasil)
direção:Beto Brant
atores:Murilo Benício, Chico Diaz, Wolney de Assis, Maria Padilha.
duração: 90 min
gênero: Drama

Sinopse

Em um bar na divisa entre o Brasil e o Paraguai, os matadores Toninho (Murilo Benício) e Alfredão (Wolney de Assis) aguardam a chegada de um pistoleiro. Eles foram contratados para matá-lo. Enquanto o alvo não chega, eles conversam sobre a morte de Múcio (Chico Diaz), o pistoleiro mais competente da região.


 ENTREVISTA COM O ROTEIRISTA DE "OS MATADORES",
MARÇAL DE AQUINO

Fonte: http://www.sitedecinema.com.br/conteudo/entrev_02.htm

Marçal Aquino é um dos roteiristas em maior evidência no cinema brasileiro. Aquino começou na literatura, escrevendo contos. Sua entrada no mundo cinematográfico aconteceu em 94, quando foi convidado pelo diretor Beto Brant para adaptar o conto "Onze Jantares", escrito pelo próprio Aquino. Quando Brant quis adaptar outro texto do autor, o chamou novamente, pois não gostou do trabalho de outros roteiristas. Hoje, Aquino tem entre seus trabalhos para cinema "Os Matadores" e "Ação entre Amigos", ambos com Beto Brant e os curtas "TV de Cachorro", de Cláudio Assis e o longa metragem "Nina", de Heitor Dhalia. Seus próximos filmes, "O Invasor" e "O amor" e outros objetos pontiagudos, em parceria com Beto Brant, estão em fase de produção. "Os Matadores" e "Ação Entre Amigos" estão disponíveis em vídeo.

Site de Cinema:
O que o motivou a ter uma carreira no cinema?
Marçal Aquino:
Sempre gostei de cinema, desde muito cedo, embora nunca tivesse pensado em trabalhar com isso. Tenho na literatura, até hoje, minha prioridade. E foi a literatura que acabou me levando para o cinema. Isso porque o diretor Beto Brant se interessou por um conto que eu havia publicado em 91, Onze jantares, e quis adaptá-lo para um curta. Na seqüência, publiquei um livro que continha o conto Matadores e, novamente, o Beto quis transformá-lo em cinema. Diante de sua insatisfação com os dois primeiros tratamentos do roteiro, ele me convidou para auxiliá-lo. Foi então que comecei a atuar como roteirista. Gosto desse trabalho, a despeito das diferenças de linguagem que existem entre o cinema e a literatura. O que me motiva a continuar escrevendo para cinema - na medida em que sou originalmente um escritor de literatura - é o prazer e o desafio de lidar com outra linguagem, é a possibilidade de transitar em outro meio de que gosto muito também.
SC: Como é o seu processo de criação de roteiros?
Aquino:
Há dois processos distintos. Um, quando trabalho sobre um texto literário previamente existente - casos de "Os Matadores", "Ação entre Amigos", "O Invasor" e "O Amor e Outros Objetos Pontiagudos". Trata-se de um trabalho de adaptação, de passagem da linguagem literária para a cinematográfica. O outro processo é o trabalho feito sobre um plot central - caso do roteiro de "Nina", uma parceira minha e do diretor Heitor Dhalia (do curta "Conceição") -, a partir do qual desenvolvi um argumento e, posteriormente, o roteiro. Em todos os casos, prefiro trabalhar em parceria com o diretor. Acho que facilita muito, porque é possível criar já conhecendo de antemão as intenções do diretor.
SC: Que filme marcou a sua vida?
Aquino: Como sempre gostei de cinema, são muitos, felizmente, os filmes que considero marcantes. Gosto do trabalho de uma infinidade de diretores, que procuro acompanhar. Fica difícil citar um único filme. A título de exemplos, menciono filmes bem recentes, que considero realizações importantes: "Assédio", do Bernardo Bertolucci; "Os Amantes do Círculo Polar", do espanhol Julio Meden, e "Funeral", do Abel Ferrara, porque, em todos eles, o trabalho do(s) roteirista(s) aparece de forma evidente nos resultados finais.

quinta-feira, 10 de março de 2011

AMANHÃ NO CINE EVEREST

JANELA DA ALMA

título original: (Janela da Alma)

lançamento: 2002 (Brasil)
direção:João Jardim, Walter Carvalho
atores:José Saramago, Wim Wenders, Hermeto Pascoal, Antônio Cícero.
duração: 73 min
gênero: Documentário


Sinopse

Dezenove pessoas com diferentes graus de deficiência visual, da miopia discreta à cegueira total, falam como se vêem, como vêem os outros e como percebem o mundo. O escritor e prêmio Nobel José Saramago, o músico Hermeto Paschoal, o cineasta Wim Wenders, o fotógrafo cego franco-esloveno Evgen Bavcar, o neurologista Oliver Sacks, a atriz Marieta Severo, o vereador cego Arnaldo Godoy, entre outros, fazem revelações pessoais e inesperadas sobre vários aspectos relativos à visão: o funcionamento fisiológico do olho, o uso de óculos e suas implicações sobre a personalidade, o significado de ver ou não ver em um mundo saturado de imagens e também a importância das emoções como elemento transformador da realidade ­ se é que ela é a mesma para todos.
PROGRAMAÇÃO DE MARÇO NO CINE EVEREST

O CINE EVEREST VOLTA DIA 11 DE MARÇO

NOVO DIA

NOVO HORÁRIO

TODAS AS SEXTAS

À PARTIR DAS 19:30


CONFIRA A PROGRAMAÇÃO

DIA 11

O ÚLTIMO POR DO SOL (CURTA)

JANELA DA ALMA (DOCUMENTÁRIO)

DIA 18

SUSHIMAN (CURTA)

UM CÉU DE ESTRELAS (LONGA)

DIA 25

SINISTRO (CURTA)

OS MATADORES (LONGA)

ENTRADA FRANCA

CINE EVEREST

SALÃO COMUNITÁRIO DA SAMEST

RUA PICO DAS BANDEIRAS, 200

JD. EVEREST, HORTOLÂNDIA- SP

REALIZAÇÃO: OCA

ORGANIZAÇÃO CULTURAL E AMBIENTAL


APOIO: SECRETARIA MUNICIPAIS DE CULTURA

SECRETARIA DE INCLUSÃO E DESENVOLVIMENTO SOCIAL

UMA AÇÃO DO PROGRAMA MAIS CULTURA

MINISTÉRIO DA CULTURA

DIVULGUE NA SUA LISTA

CONTATO: WAU MARQUEZ

TEL: 3504- 3757

CEL: 9307- 0255

--

sexta-feira, 4 de março de 2011


OS EUA CONTRA JOHN LENNON


de David Leaf e John Scheinfield

[The US VS John Lennon / Pan's Labyrinth, EUA, 2006].

"De todos os documentários já feitos sobre John Lennon,
este é o que ele amaria." (YOKO ONO)




Musicalmente, é difícil decidir qual dos ex-Beatles merece a medalha de ouro de carreira-solo mais interessante. Foi o Macca, que se dedicou principalmente às baladinhas poppy e às silly love songs, eventualmente prestando tributo ao rock clássico dos anos 50 e 60? Foi John, que se transformou numa máquina de ativismo político, parindo canções angustiadas e amargas e hinos políticos pacifistas, se entregando também a certos experimentos sonoros esquisitos? Ou foi George, que foi em busca do sentido da vida numa espiritualidade de inspiração oriental e naquelas viagens hare krishna, acabando por cometer pelo menos um clássico absoluto, o grande grande All Things Must Pass? (O Ringo, claro, não conta.) O que é inegável é que John Lennon, como “pessoa pública” e como “figura histórica”, foi o ex-Beatle que, após o fim da banda, causou mais estragos, levantou mais polêmica e mais marcou época em comparação com o resto dos Fab-Four, que parecem ter preferido uma vida num esquema mais discreto e menos chamativo.

O excitante, dinâmico e excelente filme inglês Os EUA contra John Lennon, um dos melhores documentários de rock que eu já tive o prazer de assistir, é um detalhado retrato das atividades de John Lennon após o fim dos Beatles, em 1970 - que não foram poucas nem pouco controversas. Vocês sabem: John Lennon nunca teve medo das polêmicas e das heresias e adorava posar de troublemaker. Só lembrar do famoso episódio em que comentou que os Beatles eram mais famosos e significavam mais para a juventude universal do que Jesus Cristo – episódio que despertou uma onda de rebeldia nos puristas e fanáticos cristãos, que chegaram a organizar boicotes e fogueiras públicas de discos dos Beatles, degolando simbolicamente, numa espécie de Inquisição no século 20, o ousado ateuzinho desrespeitoso...O filme, co-dirigido por David Leaf e John Scheinfield, descreve principalmente o progressivo engajamento de John & Oko contra a Guerra do Vietnã e a vasta gama de atividades políticas a que o casal se dedicou no começo dos anos 70. Foram 15 anos de dura confecção para que finalmente, em 2006, o filme finalmente fosse lançado, oferecendo a todo beatlemaníaco um saboroso documento histórico sobre o mais cínico, sarcástico e rebelde dos ex-Beatles.








Já comentei em uma matéria antiga sobre o modo como a amargura e o ressentimento tomaram conta da música e da poética de Lennon em seus primeiros álbuns-solo – que, à parte toda a melancolia e toda a ira, eram sim profundamente políticos. Do hino pacifista de “Imagine” ao feroz proto-punk de “Gimme Some Truth”, passando pelas músicas “grito de guerra” “Power To The People” e “Give Peace a Chance”, a arte de John Lennon, naqueles tempos, ficou impregnada por suas atividades políticas e por suas batalhas ideológicas.

Parece ter sido só depois de se libertar da banda que o cara pôde se tacar de cabeça no “militantismo”, acabando por se tornar uma espécie de “rebelde político” na América que adotou como casa nos anos 70. Sim, é verdade que certas músicas dos Beatles já prenunciavam que isso poderia acontecer - “Revolution”, claro, sendo a principal delas: nesse clássico da fase final dos Beatles, Lennon já conclamava a juventude a se erguer para um levante revolucionário, se bem que seguindo os moldes pacifistas gandhianos (“but if you talk about destruction you can count me out!”). Mas a dedicação a causas políticas só atinge seu ápice na carreira-solo de Lennon. E talvez seja tudo culpa da influência da Yoko, que sempre entendeu a arte como um instrumento para provocar, chocar e retirar as pessoas da passividade e da inércia. Tanto que a moça, sempre controversa como artista plástica, dizia que se sentiria fracassada como artista se metade dos frequentadores de suas “mostras” não fugissem correndo de suas exposições, horrorizados...
Mas o fato é que John & Yoko, naqueles turbulentos anos marcados pela Guerra do Vietnã e pela efervescência máxima do ideário hippie, caíram de cabeça na luta política e ideológica – usando a arte como ferramenta de protesto político e acreditando convictamente que iriam ter sucesso, usando a imensa influência que tinham junto à juventude, para tacar pedras nas engrenagens da máquina de guerra americana.






Participaram de shows-protesto e eventos beneficientes - o mais histórico deles sendo aquele que reclamava a libertação de John Sinclair, que estava na prisão por posse de dois baseados, e que foi libertado no dia seguinte à participação de Lennon no concerto em prol de sua libertação, prova incontestável do poder político do ex-Beatle. Diziam para todo mundo que o esquema era fazer amor, e não a guerra, tornando o slogan make love, not war uma espécie de símbolo supremo da ideologia juvenil da época. Criaram um monte de “happenings” e de protestos, muitas vezes bancando tudo do próprio bolso, sem nenhum patrocínio, como na vez que espalharam por uma dúzia de metrópoles mundiais os famosos cartazes e outdoors que tinham em letras garrafais os ditos WAR IS OVER, seguidos por um pequeno adendo entre parênteses: (IF YOU WANT IT). E, claro, partiram PRO PAU contra o governo Nixon, se juntando com ativistas políticos de muita penetração, inclusive com o povo do Black Panthers, até que o nome de John Lennon fosse inscrito na lista negra do governo americano como um perigo público que precisava ser detido a qualquer preço.

É delicioso de ver o governo americano tentando – e em vão! deliciosamente em vão! - expulsar aquele inglesinho enxerido do país, usando como pretexto para o mandato de exílio qualquer bobagem que Lennon tinha em sua ficha policial. Lennon, que tinha caído apaixonado por Nova York e não tinha a mínima vontade de abandonar a América, onde tinha feito tantos amigos e onde estava engajado em uma pá de movimentos de luta social, permaneceu firme e forte lutando nos tribunais por seu direito de permanecer nos Estados Unidos – e permanecer como um voz dissidente e rebelde, que ajudava a destoar o coro dos contentes e chamar para que se levantasse a voz dos rebeldes... Maior exemplo disso, claro, é o famosíssimo refrão que ele criou quase sob medida para servir como um hino de guerra das massas na luta contra o massacre no Vietnã: “all we are saying is give peace a chance!”
Uma cena chave mostra Lennon numa calorosa discussão com uma jornalista do New York Times sobre a eficácia das ações de ativismo político do ex-Beatle. A jornalista, descrente e cética, desce o cacete em Lennon, dizendo que ele “se tornou ridículo” e perguntando, com um certo sarcasmo: “você acha mesmo que ajudou alguma coisa na luta contra a Guerra do Vietnã?” E Lennon, com uma empolgante convicção no seu poder, argumenta que milhares e milhares de pessoas cantavam em uníssono nos protestos contra a Guerra o seu famoso “all we are sayin' is give peace a chance!” E as imagens do filme, mostrando as multidões saindo às ruas para protestar contra os descalabros sangrentos do Império Americano no Quarto Mundo, emocionam demais - e provam que Lennon é que tinha razão. Sempre sinto calafrios de excitação vendo essas imagens de arquivo que mostram uma imensa onda de energia humana se congregando numa só voz...
A impressão que permanece no espectador depois do fim do documentário, depois de ver aquela multidão a entoar em coro o “give a peace chance” de Lennon, é a de que a coragem e a luta infatigável de John & Oko, com absoluta certeza, deram seus frutos – e nada foi em vão. Qualquer espectador de Os EUA contra John Lennon, se perguntado, na saída do filme, se John Lennon ajudou a parar a Guerra do Vietnã, sente-se imediatamente levado a responder, sem o mínimo sinal de dúvida, e com a maior empolgação, mais fã de Lennon do que nunca: “Mas claro que sim! E muito!” (8.9)


(filme exibido na 30a Mostra de Sampa)

eduardo carli de moraes, março de 2007
educmoraes@hotmail.com.












quinta-feira, 3 de março de 2011

ANA DE HOLLANDA- RETROCESSO E VEXAME GRANDIOSO

Não tivesse o sobrenome que tem, talvez esta senhora sequer arrumasse um
cargo de contínuo no ministério da cultura.
O registro de sua atuação como gestora cultural é pífio.
Trabalhando na diretoria de musica na Funarte, tudo que fez fez foi
anacronicamente reeditar o projeto Pixinguinha imaginando ainda, quem sabe,
estar na década de setenta, sem perceber que a grande questão da música
popular brasileira neste novo milênio não era mais a de “levar” música de
qualidade” do sudeste ao resto da população “inculta” ou carente de cultura
musical nos outros estados brasileiros.
Funcionária subalterna do Minc e por isso de certa maneira com ouvidos e
olhos privilegiados, não foi capaz de perceber que um novo processo de
gestão se iniciava, agora sem os eternos privilégios que os produtores do
eixo Rio São Paulo sempre tiveram.
Não sabemos se a família tem preocupações com a cultura ou informações
suficientes pra ficar com vergonha da irmã menos talentosa, mas o PT do Rio
não pode fingir que não é consigo.
O retrocesso já em curso pela ministra, é de envergonhar quem nela pôde
apostar.
Sua presença e atuação beira o absurdo pois funciona como se o governo que
acabou de sair fosse o de adversários e não aquele que produziu um quase
consenso de boa qualidade na gestão cultural.
Talvez seja o PT do Rio, que deva resolver o grave problema de termos esta
vergonha como ministra de estado.
Não sendo ele, teremos que esperar que o nacional ou os de outros estados da
federação perceba a enorme tragédia na área da cultura que neste momento
temos e se movimente.
Não sendo estes ainda os que venham a se mobilizar, tudo será contarmos com
a diligencia da família ou da nossa presidenta que não parece também muito
bem informada ou preocupada com a questão cultural.
Estivesse, não teria cometido este grave erro, que nos proporcionará atrasos
enormes e em números tão grandes que a lista de todos sequer caberiam nesta
mensagem.
Por ora ficaremos com os elencados e postados por da dasilvaorg no link


http://rede.metareciclagem.org/blog/22-01-11/Ana-de-Hollanda-por-lulaPCosta-em-8-tweets

Mais do que o perrengue com o PMDB e sua gula, o retrocesso na política do
MinC indica um prejuízo maior para a gestão Dilma.
A escolha de Ana de Hollanda é até agora o maior erro da presidenta no
processo de construção de uma hegemonia a partir do gov. Lula.
O prejuízo a que me refiro não é evidente nem para oposição direitista nem
para cidadão médio.


Mas


1) despotencializa mov sociais;
2) privilegia setores já abastados entre produtores culturais no Brasil;
3) Consolida um processo milenar de exclusão e anulação da fala de setores
marginalizados da sociedade brasileira;
4) Desrespeita um processo democrático elaborado no MInC durante oito anos;
5) Confirma a tradição de descontinuidade entre uma gestão e outra na gestão
pública;
6) O que é uma forma também de confirmação do caráter personalista da gestão
pública e das formas de fazer política institucional no Brasil.




MARKO ANDRADE

OS EUA CONTRA JOHN LENNON

OS EUA CONTRA JOHN LENNON

de David Leaf e John Scheinfield
[The US VS John Lennon / Pan's Labyrinth, EUA, 2006

"De todos os documentários já feitos sobre John Lennon,

este é o que ele amaria." (YOKO ONO)

Musicalmente, é difícil decidir qual dos ex-Beatles merece a medalha de ouro de carreira-solo mais interessante. Foi o Macca, que se dedicou principalmente às baladinhas poppy e às silly love songs, eventualmente prestando tributo ao rock clássico dos anos 50 e 60? Foi John, que se transformou numa máquina de ativismo político, parindo canções angustiadas e amargas e hinos políticos pacifistas, se entregando também a certos experimentos sonoros esquisitos? Ou foi George, que foi em busca do sentido da vida numa espiritualidade de inspiração oriental e naquelas viagens hare krishna, acabando por cometer pelo menos um clássico absoluto, o grande grande All Things Must Pass? (O Ringo, claro, não conta.) O que é inegável é que John Lennon, como “pessoa pública” e como “figura histórica”, foi o ex-Beatle que, após o fim da banda, causou mais estragos, levantou mais polêmica e mais marcou época em comparação com o resto dos Fab-Four, que parecem ter preferido uma vida num esquema mais discreto e menos chamativo.
O excitante, dinâmico e excelente filme inglês Os EUA contra John Lennon, um dos melhores documentários de rock que eu já tive o prazer de assistir, é um detalhado retrato das atividades de John Lennon após o fim dos Beatles, em 1970 - que não foram poucas nem pouco controversas. Vocês sabem: John Lennon nunca teve medo das polêmicas e das heresias e adorava posar de troublemaker. Só lembrar do famoso episódio em que comentou que os Beatles eram mais famosos e significavam mais para a juventude universal do que Jesus Cristo – episódio que despertou uma onda de rebeldia nos puristas e fanáticos cristãos, que chegaram a organizar boicotes e fogueiras públicas de discos dos Beatles, degolando simbolicamente, numa espécie de Inquisição no século 20, o ousado ateuzinho desrespeitoso...
O filme, co-dirigido por David Leaf e John Scheinfield, descreve principalmente o progressivo engajamento de John & Oko contra a Guerra do Vietnã e a vasta gama de atividades políticas a que o casal se dedicou no começo dos anos 70. Foram 15 anos de dura confecção para que finalmente, em 2006, o filme finalmente fosse lançado, oferecendo a todo beatlemaníaco um saboroso documento histórico sobre o mais cínico, sarcástico e rebelde dos ex-Beatles.
Já comentei em uma matéria antiga sobre o modo como a amargura e o ressentimento tomaram conta da música e da poética de Lennon em seus primeiros álbuns-solo – que, à parte toda a melancolia e toda a ira, eram sim profundamente políticos. Do hino pacifista de “Imagine” ao feroz proto-punk de “Gimme Some Truth”, passando pelas músicas “grito de guerra” “Power To The People” e “Give Peace a Chance”, a arte de John Lennon, naqueles tempos, ficou impregnada por suas atividades políticas e por suas batalhas ideológicas.
Parece ter sido só depois de se libertar da banda que o cara pôde se tacar de cabeça no “militantismo”, acabando por se tornar uma espécie de “rebelde político” na América que adotou como casa nos anos 70. Sim, é verdade que certas músicas dos Beatles já prenunciavam que isso poderia acontecer - “Revolution”, claro, sendo a principal delas: nesse clássico da fase final dos Beatles, Lennon já conclamava a juventude a se erguer para um levante revolucionário, se bem que seguindo os moldes pacifistas gandhianos (“but if you talk about destruction you can count me out!”). Mas a dedicação a causas políticas só atinge seu ápice na carreira-solo de Lennon. E talvez seja tudo culpa da influência da Yoko, que sempre entendeu a arte como um instrumento para provocar, chocar e retirar as pessoas da passividade e da inércia. Tanto que a moça, sempre controversa como artista plástica, dizia que se sentiria fracassada como artista se metade dos frequentadores de suas “mostras” não fugissem correndo de suas exposições, horrorizados...
Mas o fato é que John & Yoko, naqueles turbulentos anos marcados pela Guerra do Vietnã e pela efervescência máxima do ideário hippie, caíram de cabeça na luta política e ideológica – usando a arte como ferramenta de protesto político e acreditando convictamente que iriam ter sucesso, usando a imensa influência que tinham junto à juventude, para tacar pedras nas engrenagens da máquina de guerra americana.
Participaram de shows-protesto e eventos beneficientes - o mais histórico deles sendo aquele que reclamava a libertação de John Sinclair, que estava na prisão por posse de dois baseados, e que foi libertado no dia seguinte à participação de Lennon no concerto em prol de sua libertação, prova incontestável do poder político do ex-Beatle. Diziam para todo mundo que o esquema era fazer amor, e não a guerra, tornando o slogan make love, not war uma espécie de símbolo supremo da ideologia juvenil da época. Criaram um monte de “happenings” e de protestos, muitas vezes bancando tudo do próprio bolso, sem nenhum patrocínio, como na vez que espalharam por uma dúzia de metrópoles mundiais os famosos cartazes e outdoors que tinham em letras garrafais os ditos WAR IS OVER, seguidos por um pequeno adendo entre parênteses: (IF YOU WANT IT). E, claro, partiram PRO PAU contra o governo Nixon, se juntando com ativistas políticos de muita penetração, inclusive com o povo do Black Panthers, até que o nome de John Lennon fosse inscrito na lista negra do governo americano como um perigo público que precisava ser detido a qualquer preço.
É delicioso de ver o governo americano tentando – e em vão! deliciosamente em vão! - expulsar aquele inglesinho enxerido do país, usando como pretexto para o mandato de exílio qualquer bobagem que Lennon tinha em sua ficha policial. Lennon, que tinha caído apaixonado por Nova York e não tinha a mínima vontade de abandonar a América, onde tinha feito tantos amigos e onde estava engajado em uma pá de movimentos de luta social, permaneceu firme e forte lutando nos tribunais por seu direito de permanecer nos Estados Unidos – e permanecer como um voz dissidente e rebelde, que ajudava a destoar o coro dos contentes e chamar para que se levantasse a voz dos rebeldes... Maior exemplo disso, claro, é o famosíssimo refrão que ele criou quase sob medida para servir como um hino de guerra das massas na luta contra o massacre no Vietnã: “all we are saying is give peace a chance!”
Uma cena chave mostra Lennon numa calorosa discussão com uma jornalista do New York Times sobre a eficácia das ações de ativismo político do ex-Beatle. A jornalista, descrente e cética, desce o cacete em Lennon, dizendo que ele “se tornou ridículo” e perguntando, com um certo sarcasmo: “você acha mesmo que ajudou alguma coisa na luta contra a Guerra do Vietnã?” E Lennon, com uma empolgante convicção no seu poder, argumenta que milhares e milhares de pessoas cantavam em uníssono nos protestos contra a Guerra o seu famoso “all we are sayin' is give peace a chance!” E as imagens do filme, mostrando as multidões saindo às ruas para protestar contra os descalabros sangrentos do Império Americano no Quarto Mundo, emocionam demais - e provam que Lennon é que tinha razão. Sempre sinto calafrios de excitação vendo essas imagens de arquivo que mostram uma imensa onda de energia humana se congregando numa só voz...
A impressão que permanece no espectador depois do fim do documentário, depois de ver aquela multidão a entoar em coro o “give a peace chance” de Lennon, é a de que a coragem e a luta infatigável de John & Oko, com absoluta certeza, deram seus frutos – e nada foi em vão. Qualquer espectador de Os EUA contra John Lennon, se perguntado, na saída do filme, se John Lennon ajudou a parar a Guerra do Vietnã, sente-se imediatamente levado a responder, sem o mínimo sinal de dúvida, e com a maior empolgação, mais fã de Lennon do que nunca: “Mas claro que sim! E muito!” (8.9)


(filme exibido na 30a Mostra de Sampa)
Fonte: http://dirtylittlemummie.vilabol.uol.com.br/cinema/lennon.htm


eduardo carli de moraes, março de 2007


educmoraes@hotmail.com.

MINISTRA DA CULTURA NOMEIA REPRESENTANTE DO ECAD

AnAna de Hollanda nomeia advogada ligada a representante do Ecad para o MinC e indica que vai abandonar a reforma da lei de direito autoral



RIO - Após dois meses de especulação, a ministra da Cultura, Ana de Hollanda, deu o principal sinal de que vai abandonar a reforma da Lei de Direito Autoral, um dos principais pontos defendidos pela política cultural do governo Lula. Ana afastou Marcos Souza da gestão da Diretoria de Direitos Intelectuais (DDI) do Ministério da Cultura (MinC), órgão responsável por coordenar a reforma, e convidou Marcia Regina Barbosa, servidora da Advocacia-Geral da União, para o cargo. Souza era o principal defensor dentro do governo da necessidade de se continuar o processo da reforma da lei, cujos debates são promovidos pelo governo desde 2007.


Como você avalia as primeiras movimentações do novo ministério da Cultura em relação à reforma da Lei do Direito Autoral?


Diretor da ONU diz que direitos autorais ficarão obsoletos se não se adaptarem à era digital


O nome de Marcia teria sido indicado para o MinC por Hildebrando Pontes Neto, ex-presidente do Conselho Nacional de Direito Autoral (CNDA), órgão que regulou o setor entre 1973 e 1990, até ser extinto. Após deixar o governo, ele vem advogando em mais de cem processos para o Escritório Central de Arrecadação e Distribuição, o Ecad, uma instituição que conglomera associações de compositores e músicos e que sempre foi contrária à reforma. Entre as dezenas de pontos que o Ecad critica, o principal é a criação de uma instância que regulamentaria as ações do escritório, hoje com autonomia para recolher e distribuir direitos autorais.


Em janeiro, era dada como certa dentro do MinC a nomeação de Hildebrando para a DDI. Ana de Hollanda chegou a se encontrar com o advogado do Ecad no dia 27 de janeiro, numa reunião oficial em Brasília, gerando especulações em redes sociais e reações de grupos a favor da reforma da lei. Mas o MinC negou que Hildebrando fosse assumir o cargo.


Até que, há dez dias, foi publicada no Diário Oficial a cessão de Marcia de sua função como advogada da Consultoria-Geral da União para a DDI. Na última sexta-feira, Marcos Souza, titular da DDI desde sua criação, em 2009, coordenador da revisão do projeto, foi informado de que seria substituído na direção do órgão. Ana de Hollanda convidou Souza a continuar no MinC, mas ele não aceitou e vai voltar ao Ministério do Planejamento, onde é especialista em gestão de políticas públicas, à espera de uma nova função.


- É prerrogativa do dirigente escolher as pessoas para o cargo de confiança, é normal a mudança - diz Souza. - Mas eu tenho muita convicção a respeito do trabalho que foi executado pela DDI. Direito autoral não é fácil. Não é fácil agradar todo mundo. Mas foi um trabalho sério, honesto. O meu maior lamento é sair sem dar um retorno para a sociedade do que fizemos. Agora, espero poder ajudar o governo em outra área.


" Eu não acho que a ministra esteja má intencionada, mas acho que existe uma precipitação de se tomar a posição de um lado sem consultar a própria classe - Ivan Lins "


A reforma da Lei do Direito Autoral (a 9.610, de fevereiro de 1998) começou a ser debatida em 2004. Três anos depois, o então ministro da Cultura Gilberto Gil lançou o Fórum Nacional de Direito Autoral, cujo objetivo era discutir com a sociedade a necessidade de se revisar a Lei. O governo promoveu oito seminários nacionais, um internacional e mais de 80 reuniões, e a reforma era vista como prioridade tanto por Gil quanto por Juca Ferreira, ministro de julho de 2008 até o fim do ano passado.


De 14 de junho e 31 de agosto de 2010, o projeto foi posto em consulta pública, onde pôde receber sugestões de interessados. Mais de oito mil ideias foram analisadas pela DDI e discutidas pelo Grupo Interministerial de Propriedade Intelectual, antes que uma proposta fosse enviada para apreciação da Casa Civil. Ana de Hollanda não quis falar ao GLOBO sobre as mudanças na DDI. Mas, neste fim de semana, ela deu uma entrevista à revista "Isto É Dinheiro", em que disse: "Ainda nem consegui ler o texto que foi mandado pela Casa Civil, nem acho que seja o caso, porque não sou eu que vou analisar. Minha responsabilidade é de ministra".


- Eu não acho que a ministra esteja má intencionada, mas acho que existe uma precipitação de se tomar a posição de um lado sem consultar a própria classe - afirma o músico Ivan Lins. - Parece-me que ela está sendo usada por pessoas próximas e que têm interesses em impedir que se mude a legislação autoral.

quarta-feira, 2 de março de 2011

A BATALHA ENTRE PROPRIEDADE INTELECTUAL E CULTURA LIVRE

Depois de duas monografias, a primeira dissertação da nossa biblioteca foi colocada hoje. Trata-se de “Distúrbios da Era Informacional: os conflitos entre a propriedade intelectual e a cultura livre”, do sociólogo e mestre em ciências sociais pela PUC-SP Luis Eduardo Tavares, nascido e criado paulistano.
Como o título prenuncia, a pesquisa faz um balanço de atores (Free Software Foundation, Pirate Bay, Partido Pirata) e conceitos (cultura digital, commons, mídia tática, ética hacker, capitalismo informacional) da cultura livre atual e destaca a grande batalha dos nossos tempos que dá título à esse post.
Assim como nas monografias anteriores, convidamos o responsável pela pesquisa – no caso, Luís – para escrever sobre sua dissertação, e é esse texto que tu vai ler abaixo. Agradecemos a contribuição do sociólogo, que não satisfeito em falar sobre sua pesquisa fez uma interessente contextualização do seu tema de pesquisa com a atualidade desse 2011 já movimentado, de MinC à Egito, passando pelo Hadopi francês e pela Sinde recentemente aprovada na Espanha – e da qual, por sinal, falemos mais em breve. Ao fim do texto, a dissertação de Luís na íntegra.


Segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011, ADENTRAMOS NA SEGUNDA DÉCADA DO SÉCULO XXI! Diversos eventos que hoje presenciamos me fazem achar esse momento profundamente interessante e acredito que os leitores deste blog compartilham desta opinião, já que a temática aqui abordada é parte destes eventos a que me refiro. Vejamos uma rápida retrospectiva panorâmica apenas do final do ano passado para cá:


31 de agosto de 2010, termina consulta pública à Revisão da Lei de Direitos Autorais brasileira com 8.431 manifestações e contribuições ao texto, enviadas por 1.049 participantes, sendo 118 instituições;


01 de outubro de 2010, entra em vigor a Lei Hadopi na França que criminaliza o compartilhamento de arquivos pela internet;


26 de novembro de 2010, a corte sueca anuncia condenação dos fundadores do The Pirate Bay por crimes contra as leis de direitos autorais;


28 de novembro de 2010, Wikileaks publica na web 251.287 telegramas secretos da diplomacia estadunidense;


04 de dezembro de 2010, acontece a Maratona Internacional de Dados Abertos também chamada de Maratona Hacker ou Hackaton;


06-07 de dezembro de 2010, o grupo Anonymous derruba os sites da Visa, Master Card e Pay Pal em retalhação ao bloqueio financeiro que estas empresas impuseram ao Wikileaks;


17 de dezembro de 2010, eclode a revolta na Tunísia contra o ditador Ben Ali, organizando-se por meio de um sistema de comunicação interativo e multimodal que mescla televisão, internet, rádio e plataformas de comunicação móveis [NE: vale acompanhar o twitter do pesquisador Pierre Levy, tunisiano, sobre os eventos em seu país];


19 de janeiro de 2011, a nova ministra da cultura do Brasil Ana de Hollanda retira a licença creative commons do site do MinC;


24 de janeiro de 2011, espanhóis lançam uma petição on-line pedindo a demissão da ministra da cultura Ángeles González-Sinde, responsável pela Lei Sinde, semelhante a Lei Hadopi;


25 de janeiro de 2011, eclode a revolta “digital’ no Egito contra o ditador Hosni Mubarak, estimulada pela Tunísia, levando o governo a bloquear a internet no país;


30 de janeiro de 2011, o governo chinês bloqueia a palavra “Egito” na internet do país com medo de que a onda de revoltas no mundo árabe os alcance.


O que há de comum entre estes diferentes acontecimentos e porque eles tornam o momento em que vivemos interessante? Todos eles apontam para uma das questões mais cruciais do nosso tempo, as tensões entre as possibilidades da livre circulação da informação, criadas pelas tecnologias digitais, e as tentativas, por parte dos poderes, de privatizá-las e bloqueá-las. A importância dessas tensões reside no fato de que a informação é o elemento central da economia capitalista na sua etapa informacional. Por isso, elas expressam confrontos entre formas de rupturas e continuidades da ordem existente, entre a racionalidade dominante e racionalidades alternativas.
São estas tensões e como elas revelam importantes características do nosso tempo que constituem o tema de minha dissertação de mestrado pelo programa de pós-graduação em ciências sociais da PUC-SP, defendida em 17 de junho de 2010. A presente dissertação, intitulada “Distúrbios da Era Informacional: os conflitos entre a propriedade intelectual e a cultura livre”, postada aqui neste espaço, foi orientada pelo professor Miguel Chaia, do departamento de ciências políticas e coordenador do NEAMP – Núcleo de Estudos em Arte, Mídia e Política. Na banca de defesa, estiveram presentes os professores Ladislau Dowbor, da casa, e Cláudio Penteado, convidado da UFABC.
De forma geral e a luz dos recente acontecimentos que não puderam ser abordados na dissertação, mas que corroboram suas conclusões, apresento abaixo um sintético resumo do que diversos fatos e leituras de diferentes autores me levaram a afirmar sobre o que está em jogo nos dias atuais.
Em primeiro lugar, não se trata ainda do fim do capitalismo, embora esta possibilidade encontre aí uma brecha. Mas, trata-se, principalmente, de uma disputa no interior do capitalismo, entre atores estabelecidos e atores emergentes, gerada pela transição de uma economia do tipo industrial para uma do tipo informacional e a consequente atualização histórica de suas instituições. O que define esta transição é emergência de um novo marco tecnológico do qual participam um novo instrumento de produção (as tecnologias de informação e comunicação) e uma nova organização do trabalho (a produção colaborativa em rede).
O capitalismo informacional é a etapa do sistema produtivo caracterizado pela produção de bens informacionais, que são aqueles bens de ordem imaterial, ao mesmo tempo produtos e insumos dos circuitos de produção baseados na informação. Bens culturais, obras artísticas, conhecimentos científicos, saberes subjetivos e intersubjetivos e até códigos genéticos podem ser capturados por estes circuitos produtivos, convertidos em informação pela codificação digital, tornando-se bens informacionais agregadores de valores de uso e troca. A informação torna-se a principal força produtiva dessa economia e o mundo pode tornar-se um gigantesco banco de dados apropriado e monopolizado pelo capital.
No entanto, a informação impõe grandes dificuldades em ser tratada como uma mercadoria industrial. Primeiro, porque ela é abundante, isto é, o seu uso não diminui seu estoque, mas o potencializa. E segundo, porque sua fluidez e reprodutibilidade nas redes digitais se faz sem custos. Portanto, por sua abundância, fluidez e reprodutibilidade, o valor monetário dessa força produtiva tende a zero, instaurando uma nova situação na economia capitalista.
Além disso, a organização do trabalho em redes de produção colaborativas e descentralizadas, no lugar da linha de montagem e do parcelamento de tarefas taylor-fordistas, permite a todos que estejam conectados participarem do processo de produção e da inovação tecnológica que, dessa forma, atinge um ritmo muito mais acelerado. Para se desenvolver, a produção colaborativa requer o compartilhamento de sua força produtiva, isto é, que o conjunto de informações, conhecimentos e saberes dos agentes envolvidos, sejam considerados bens comuns (os commons).
Trata-se de um de uma reapropriação das tecnologias de produção pelos trabalhadores num movimento reverso ao que aconteceu no início do capitalismo, quando os trabalhadores foram separados dos instrumentos de trabalho e obrigados a se entregar aos desígnios do capital. Agora, esse trabalho da multidão engendra uma produção social que excede às demandas do capital e escapa ao seu controle. Ele não cessa de criar alternativas de compartilhamento dessa força produtiva, pressionando pela distensão ou mesmo pela quebra da propriedade intelectual.
Os atores hegemônicos, por sua vez, precisam impedir esses commons de informação, bloqueando a livre circulação e o compartilhamento dessa força produtiva, por meio da lei e de aparatos repressivos, donde destacam-se os dispositivos da propriedade intelectual (copyrights e patentes), como forma de gerar valor monetário por sua escassez artificial e, assim, manter os lucros e o poder. São os novos “enclousures”. Quando não capturadas, as práticas de compartilhamento da informação e as dinâmicas de produção colaborativas são jogadas na ilegalidade, como “pirataria”. Assim, a propriedade intelectual apresenta-se como um dispositivo de controle e monopólio, pelo capital, da criação e inovação tecnológica.
Não somente o capital hegemônico, mas também os regimes autoritários se vem ameaçados pelo compartilhamento da informação. Tanto as ditaduras quanto as democracias assentadas na apatia política dos cidadãos, como os EUA, precisam controlar a internet. O cidadão informado empodera-se e participa, exercendo controle sobre os governantes e não apenas sendo controlados por estes. Nesse sentido, o Wikileaks talvez represente para os governos o que o Napster, e hoje o Pirate Bay, representam para as indústrias do entretenimento. Uma frase da mensagem do grupo Anonymous divulgada no vídeo abaixo em 09 de dezembro de 2010, expressa bem estas questões:


“Internet é o último bastião da liberdade neste mundo tecnológico em constante evolução. Internet é capaz de conectar-nos a todos. Quando estamos conectados somos fortes. Quando somos fortes temos poder. Quando temos poder somos capazes de fazer o impossível. Por isso é que o governo está atuando sobre o Wikileaks. Isto é o que temem. Tem medo de nosso poder quando estamos unidos.”


Estes conflitos não estão solucionados, mas um movimento crescente de atores se forma na sociedade civil em prol da livre circulação de informações e conhecimentos como um novo paradigma econômico que vai pouco a pouco gerando novas institucionalidades. Uma ética que aponta para novos modelos sociais está sendo forjada no dia-a-dia do trabalho colaborativo em rede. O movimento da Cultura Livre é sua maior expressãO.


Saskia Sá


Vice-presidente do Conselho Nacional de Cineclubes Brasileiros - CNC