Pesquisar este blog

quinta-feira, 14 de abril de 2011

ENTREVISTA COM LUCIANO ASSIS

ENTREVISTA QUE DEI PARA O JORNALISTA LUCIANO ASSIS
DO JORNAL O LIBERAL DE AMERICANA E REGIÃO
NA ÍNTEGRA AQUI NO BLOG DO CINE



1 – Por que o Cine Everest está deixando de exibir sessões de cinema?


Por falta de estrutura para continuar, não dá para fomentar o cinema na cidade sem dinheiro.
No ano passado, sustentei o projeto com uma bolsa de trezentos reais por mês, a Secretaria de Cultura o apoio veio com internet e telefone para produzir as sessões, e transporte dos equipamentos para esse ano.
Com essa bolsa ainda paguei em três vezes, um curso de gestão cultural para aprender a escrever projetos e participar de editais, capacitação por conta própria, além de passagem alimentação, e até julho do ano passado eu pagava aluguel, e contava com colaborações de voluntários da entidade que faço parte, bem como de meus leitores, e artistas.
Existe até a possibilidade de outra bolsa, mas até agora não assinei nenhum contrato.
Tentativa de diálogo da minha parte não faltou, conseguimos transporte para as escolas, mas os ônibus eram sempre cancelados na última hora, apenas duas escolas conseguiram nos visitar, tivemos que nos deslocar até as escolas, com carros e gasolina de voluntários para atender o público estudantil.
Faço parte do Conselho Municipal de Cultura, e teremos em breve, uma audiência pública da lei do Fundo Municipal de Cultura, proposta pelo conselho, a questão é que o governo atual sempre viu a cultura como detrimento, nossos governantes são conservadores e não se envolvem nas discussões na ordem do dia no nosso setor, sujeitos típicos de cidades dormitórios, não acordaram para o potencial econômico e simbólico da cultura, tanto que não participaram das consultas que realizamos, a da lei rouanet, e da lei dos direitos autorais, apenas um vereador compareceu a dois fóruns, não respeitam nem o caráter consultivo do conselho, ainda estão presos a velha forma de fazer política, nenhum projeto é permanente, é sempre um outdoor para a visibilidade demagoga de algum pré- candidato, tudo é absorvido pelo buraco negro das eleições, e quem não quer transformar seu projeto em um palanque, nem é assessor de nenhum parlamentar, nem amiguinho ou que tenha padrinho, come o pão que o governo amassou.
Digamos que o Cine Everest está fora do ar, e que provavelmente eu não esteja mais à frente dele quando as sessões voltarem, mas a falta de estrutura é crônica e geral, para mim, encontros como o Me add, são sintomas da falta de opções e de programação cultural na cidade, e da depredação e déficit de equipamentos.


2 – Quais eram os planos que vc tinha para ele quando iniciou o projeto há quase dois anos?

Além de fomentar a experiência audiovisual, queríamos oferecer oficinas na área de cinema, realizar produções locais, ciclos, uma mostra competitiva para tais produções, festivais com filmes de todo o país, trazer convidados para palestras e debates, além de organizar e fazer parte de um circuito que envolveria as cidades de Paulínia, Campinas, Hortolândia, Sumaré, Santa Bárbara e Americana.


3 – O que mais faltou para que um projeto tão importante continuasse atraindo público?


Nosso maior desafio é atrair público para um cineclube, exibições públicas não são mais fisicamente necessárias, a tecnologia está cada vez mais acessível, e o audiovisual também, desde um celular, até no conforto de sua sala, com uma tecnologia de som e imagem com mais qualidade que a de um projetor, lembra da propaganda? Tenha um cinema na sua casa.
Diferentemente dos games por exemplo, você pode jogar em rede da sua casa, no entanto, os jogadores preferem se reunir na lan rouse.
Até mesmos as grandes salas só sobrevivem por causa da praça de alimentação e da publicidade, inclusive a cidade já teve uma sala comercial nos anos noventa, mas faliu.
Para disseminar o hábito de assistir à filmes de forma coletiva, precisávamos no mínimo de um patrocínio para o aluguel de um ônibus toda sexta feira, assim poderíamos trazer escolas, faculdades, moradores de outros bairros, instituições, entidades, e proporcionar a apreciação de um filme, dentro da proposta de discussão e debate, se você não facilitar ao máximo a vinda do público ao espaço, ele não sai de casa.


4 – Na sua opinião, o que Hortolândia perde com o fechamento do Cine Everest?


Não sei se o fechamento é definitivo, tenho que conversar com a diretoria da Organização Cultural e Ambiental, que é a proponente do projeto junto ao Ministério da Cultura, e acertar minha situação. Talvez o projeto seja retomando com outro coordenador, e eu passe a me dedicar mais à literatura, e até agora o secretário não entrou em contato.
Não tenho certeza de que a cidade vai sentir essa perda, mas é o único espaço de cinema gratuito, e abortado mesmo antes de atingir sua potencialidade, e mesmo antes da cidade o conhecer melhor.
Somos vizinhos de um pólo de produção cinematográfico, temos cinemas, cineastas, cinéfilos e outros cineclubes na região, além de produtoras destacadas, toda nossa região pode se tornar um circuito significativo no estado, atraindo investimentos e políticas para o audiovisual regional, e se continuar assim a cidade pode ficar fora desse processo, que com certeza traz um impacto econômico.
Mas vou continuar cobrando e fazendo campanha por políticas públicas, pode até ser suicídio, e a nossa classe precisa despertar também, não consegue se organizar, só poucos como eu dão a cara, quem sabe assim podemos disputar verbas com os pastores, que mesmo sem participar da construção de políticas públicas, conseguiram uma lei junto à Câmara de Vereadores, e uma verba para seu evento no aniversário da cidade!
Mas entidades, cineclubes, artistas e moradores começam a se manifestar em lista de e- mail, estão propondo um encontro e uma ação a favor do cine, e por políticas públicas.
Termino a entrevista com um slogam que criei em função da apatia do nosso setor diante da sensação de impotência e alienação:


"Não seja mais um banana de pijama, na cidade dormitório".

Nenhum comentário:

Postar um comentário