O CINE EVEREST É CINEMA GRATUITO PARA QUEM NÃO TEM ACESSO AS SALAS COMERCIAIS... É FORMAÇÃO DE ESPECTADOR CRÍTICO, E PRODUTOR DE CONTEÚDO... FILMES NACIONAIS E ESTRANGEIROS... CICLOS, MOSTRAS, FESTIVAIS... UM PROJETO DE CINECLUBE DA ORGANIZAÇÃO CULTURAL E AMBIENTAL, A OCA... CINE EVEREST... FILMES SÃO FEITOS PRA SEREM VISTOS!!! CINE EVEREST / RUA PICO DAS BANDEIRAS, 200/ JD. EVEREST - HORTOLÂNDIA, SP
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terça-feira, 30 de novembro de 2010
CAPITAL MUNDIAL DO CINECLUBISMO
Programação
05 de dezembro – Domingo
Local: Hotel Fazenda Viver
10h00 – Credenciamento dos participantes
19h30 - Jantar
20h30 – Plenária de abertura da 28ª. Jornada Nacional de Cineclubes
Sessão solene
Aprovação do programa e do regimento interno da Jornada
22h30 - Confraternização
06 de dezembro – Segunda Feira
Local: Hotel Fazenda Viver
09h30 – Assembléia Geral Ordinária
Apresentação de relatórios e credenciamento de direito a voto
10h - Apresentação e aprovação dos relatórios das diretorias do CNC,
entidades estaduais e municipais filiadas.
Organização dos Grupos de Trabalho
11h00 – Reunião dos Grupos de Trabalho - GTs
12h30 – Almoço
13h30 – Mostra Cineclub New Network Brasil
Mostra de filmes de cineclubistas realizadores
14h30 – Reunião dos Grupos de Trabalho - GTs
17h00 - Lanche
17h30 – Reunião do Conselho de Representantes com a Diretoria do CNC
19h30 – Jantar
21h00 – Mostra de Cinema Internacional
Qaleh – Setor Feminino, de Kamran Shirdel
Irã - 18 minutos, 1966/1980.
Jardim das Folhas Sagradas, de Pola Ribeiro
Brasil - 91 minutos, 2010.
07 de dezembro – Terça Feira
Local: Cine Teatro São Luís
09h30 - Abertura da 3ª. Conferência Mundial de Cineclubes
10h30 - Sessão de homenagens - Entrega do Prêmio Paulo Emílio Salles Gomes.
11h00 – 3ª. Conferência Mundial de Cineclubes Mesa 1. A Obra, o Autor e o
Público: e os Direitos?
Júlio Lamaña – Diretor de Comunicação – FICC - Espanha
Clarice Castro – Jurista da PUC / PE - Brasil
Rajesh Gongaju – Delegado da Federação de Cineclubes de Katmandu - Nepal
Rosemberg Cariry – Cineasta e Presidente do Congresso Brasileiro de Cinema - Brasil
Paulo Cannabrava - Jornalista e presidente da APIJOR - Brasil
Rafael Oliveira - Secretaria de Políticas Culturais do MinC – Brasil
Moderadora:
Elisabetta Randaccio – Presidente da Federação Italiana de Cineclubes – Itália
13h30 – Almoço
14h30 – Mostra CineSud
Por primera vez, de Octavio Cortázar
Cuba - 10 minutos, 1967, documentário.
Floating Chloe, de Mónica Naranjo
Colômbia - 3 minutos, 2004, animação.
Conquistadores, de Eloi Tomás
Espanha - 9 minutos, 2005, animação.
El reciclo del biciclo, de Agustín Martínez
México - 12 minutos, 1999, experimental.
Ave Maria ou Mãe dos Sertanejos, de Camilo Cavalcante
Brasil - 12 minutos, 2009, documentário.
15h30 – Reunião dos Grupos de Trabalho - GTs
19h30 – Jantar
21h00 – Mostra de Cinema Internacional
Prisão de Mulheres, de Kamran Shirdel
Irã - 10 minutos, 1965.
Patativa do Assaré, Ave Poesia, de Rosemberg Cariry
Brasil - 84 minutos, 2009.
08 de dezembro – Quarta Feira
Local: Hotel Fazenda Viver
09h00 – Assembléia Geral Extraordinária de Reforma dos Estatutos
Apresentação, debate e aprovação de reformas nos estatutos do CNC
12h30 – Almoço
13h30 – Mostra CineSud
Minami em Close-up, de Thiago Mendonça
Brasil - 19 minutos, 2009, documentário.
Qué viva el muerto, de Randi Krarup
Ecuador - 8 minutos, 2002, ficção.
La ruta natural, de Álex Pastor
Espanha - 11 minutos, 2005, ficção.
Comprometendo a atuação, de Bruno Bini
Brasil - 17 minutos, 2006, animação.
14h30 - Assembléia Geral Ordinária do CNC
Apresentação e aprovação do relatório dos GT’s e do parecer do Conselho de
Representantes
17h00 – Lanche
17h30 – 3ª. Conferência Mundial de Cineclubes
Mesa 2. A FICC e a América Latina
Cristina Marchese – Secretária do Grupo Latinoamericano da FICC - Argentina
Felipe Macedo – Assessor para Assuntos Internacionais – CNC - Brasil
Gabriel Rodríguez – Delegado do México FICC - México
Yenny Chaverra – Convidada especial - Colômbia
Moderadora:
Laura Godoy – Coordenadora da Cinemateca Nacional do Equador - Equador
19h00 - Homenagem póstuma a Juan Carlos Arch Ex Secretário
Latinoamericano da FICC - Argentina
Exibição e debate do filme
Juan Carlos en el recuerdo, de Cristina Marchese
Argentina - 20 minutos.
Moderador do debate:
Fernando Henríquez - Vice Secretário do Grupo Latinoamericano, Uruguai.
19h30 – Jantar
21h00 – Mostra de Cinema Internacional
Teheran, payetakhat-e Iran ast, Teerã é a capital do Irã, de Kamran Shirdel
Irã - 18 minutos, 1966/1979.
La orchestra di Piazzo Vittorio, de Agostino Ferrente
Itália - 90 minutos, 2006.
09 de dezembro – Quinta feira
Local: Hotel Fazenda Viver
09h00 – Assembléia Geral Ordinária de Eleição e Posse da Diretoria do CNC
Encerramento da 28ª Jornada Nacional de Cineclubes
12h30 – Almoço
3h30 – Mostra Cineclube New Net Work Mostra de filmes de cineclubistas
realizadores
14h30 – 3ª. Conferência Mundial de Cineclubes
Mesa 3. Panorama mundial: cineclubes no Século XXI
Maeve Cooke – Secretária do Grupo de Língua Inglesa - FICC - Irlanda
Aziz Arbai – Secretário do Grupo Mediterrâneo - FICC - Marrocos
Tuck Cheong Wong – Secretário do Grupo Asiático - FICC - Malásia
Maciej Gil – Secretário do Grupo da Europa Oriental - FICC - Polônia
João Paulo Macedo – Diretor de Festivais - FICC - Portugal
Moderador:
Paolo Minuto – Presidente da Federação Internacional de Cineclubes - FICC - Itália
16h00 – 3ª. Conferência Mundial de Cineclubes
Mesa 4. Experiências cineclubistas no Brasil
Gê Carvalho - FEPEC, Pernambuco.
Mariza Teixeira - ACCVV, Espírito Santo.
Luiz Alberto Cassol – Vice Presidente do CNC, Rio Grande do Sul.
Rio Grande do Sul /Francisco Weyl - PARACINE, Pará.
Flávio Machado - ASCINE, Rio de Janeiro.
Moderador:
João Baptista Pimentel Neto - Secretário Geral do CNC, Brasil.
17h00 - Lanche
17h30 – 3ª. Conferência Mundial de Cineclubes
Mesa 5. Estudos do Cineclubismo: oralidade, arquivos, origens e publicações
Germain Lacaisse - Phd de Estudos Cinematográficos de Montreal - Canadá
Robert Richter – Diretor de Arquivos e Memória - FICC - Suíça
Felipe Macedo – Assessor para Assuntos Internacionais - CNC - Brasil
Gabriel Rodríguez – Delegado do México FICC - México
Moderador:
Júlio Lamaña – Diretor de Comunicação - FICC - Espanha
19h30 – Jantar
21h00 – Mostra de Cinema Internacional
A noite em que choveu, de Kamran Shirdel
Irã - 35 minutos, 1967/1974.
A Mão e a Luva, de Roberto Orazi
Itália/Brasil - 70 minutos, 2010.
10 de dezembro – Sexta feira
Local: Hotel Fazenda Viver
09h00 – 3ª. Conferência Mundial de Cineclubismo
Mesa de Encerramento.
10h30 – Assembléia Geral da Federação Internacional de Cineclubes
12h30 – Almoço
13h30 – Mostra Cineclub New Net Work - curtas
Mostra de filmes de cineclubistas realizadores
14h30 – Assembléia Geral da Federação Internacional de Cineclubes
Vinte e cinco anos após sua realização em Cuba, uma Assembléia da FICC
volta a ser realizada em um país latinoamericano.
19h30 – Jantar
21h00 – Mostra de Cinema Internacional
Solidão Opus I, de Kamran Shirdel
Irã - 18 minutos, 2001.
O homem mau dorme bem, de Geraldo Moraes
Brasil - 90 minutos, 2009.
22h00 - Confraternização
11 de dezembro – Sábado
Local: Hotel Fazenda Viver
09h00 – Reunião do Comitê Executivo da FICC – Gestão 2010 / 2012
12h30 – Almoço
13h30 – Mostra Cineclub New Net Work - curtas
Mostra de filmes de cineclubistas realizadores
14h30 – Reunião do Comitê Executivo da FICC – Gestão 2010 / 2012
19h30 – Jantar
21h00 – Mostra de Cinema Brasileiro
Vlado, 30 anos depois, de João Batista de Andrade
Brasil - 86 minutos, 2005.
Maiores Informações:
28 JORNADA NACIONAL DE CINECLUBES
3 CONFERÊNCIA MUNDIAL DE CINECLUBISMO
ou no saite e no blog oficiais do CNC - Conselho Nacional de Cineclubes Brasileiros
CINECLUBES.ORG
CNC BRASIL
Realização:
CNC - Conselho Nacional de Cineclubes Brasileiros
FICC - Federação Internacional de Cineclubes
FEPEC - Federação Pernambucana de Cineclubes
Co-Realização:
Governo de Pernambuco
Secretaria de Estado da Cultura
Secretaria de Estado da Educação
FUNDARPE - Fundação de Arte de Pernambuco
Coordenadoria de Cinema e Vídeo.
Patrocínio:
Governo Federal
MinC - Ministério da Cultura
SE - Secretaria Executiva
SAV - Secretaria do Audiovisual
SAI - Secretaria de Articulação Institucional / Programa Cine+Cultura
SPC - Secretaria de Políticas Culturais - Diretoria de Direitos Intelectuais
Apoio:
Ministério das Relações Exteriores / Divisão de Promoção Audiovisual
UFES - Universidade Federal do Espírito Santo / Secretaria de Cultura
Centro Cultural Correios Recife
Representação Regional do Nordeste
Cinemateca Brasileira
CTAV - Centro Técnico do Audiovisual
Programadora Brasil
Apoio Mídia:
Pernambuco Nação Cultural
TVE Bahia
TV Cidade Livre Canal Comunitário
Mundokino.Net
Observatório Cineclubista Brasileiro
Cultura Digital Br
Utopya
Entidades parceiras:
CBC - Congresso Brasileiro de Cinema
CBDC - Coalizão Brasileira pela Diversidade Cultural
APIJOR - Associação de Propriedade Intelectual dos Jornalistas
ABD - Associação Brasileira de Documentaristas
ABD/APECI - Associação Pernambucana de Cineastas
APCNN - Associação de Produtores e Cineastas do Norte e Nordeste
ABEPEC - Associação Brasileira das Emissoras Públicas, Educativas e Culturais
Fórum dos Festivais
INTERVOZES
ASCINE - Associação de Cineclubes do Rio de Janeiro
FPC - Federação de Cineclubes do Estado de São Paulo
PARACINE - Federação Paraense de Cineclubes
União de Cineclubes da Bahia
ACCVV - Associação de Cineclubes de Vila Velha, ES
CREC - Centro Rioclarense de Estudos Cinematográficos, SP
CINESUD - Cinema do Sul
João Baptista Pimentel Neto
Secretário Geral e Diretor de Comunicação do CNC
E-mail: 28jornada.comunicacao@cineclubes.org.br
25/11/2010.
Pelos Direitos do Público!
Filmes são feitos para serem vistos!
terça-feira, 23 de novembro de 2010
NA PRÓXIMA QUINTA O CINE EVEREST APRESENTA:
Anjos do Sol
DIA 25 DE NOVEMBRO
Dia Internacional pela Eliminação da Violência contra a Mulher
20 HORAS
NA SAMEST
RUA PICO DAS BANDEIRAS, 200
JD. EVEREST- HORTOLÂNDIA SP
ENTRADA FRANCA
lançamento: 2006 (Brasil)
direção: Rudi Lagemann
atores: Antônio Calloni (Saraiva) Chico Diaz (Tadeu) Otávio Augusto , Vera Holtz , Darlene Glória , Fernanda Carvalho , Bianca Comparato
duração: 92 min
gênero: Drama
sinopse:
Maria (Fernanda Carvalho) é uma jovem de 12 anos, que mora no interior do nordeste brasileiro. No verão de 2002 ela é vendida por sua família a um recrutador de prostitutas. Após ser comprada em um leilão de meninas virgens, Maria é enviada a um prostíbulo localizado perto de um garimpo, na floresta amazônica. Após meses sofrendo abusos, ela consegue fugir e passa a cruzar o Brasil através de viagens de caminhão. Mas ao chegar no Rio de Janeiro a prostituição volta a cruzar seu caminho.
A exploração sexual infantil, um tema que não costuma frequentar as salas de cinema, está no centro do drama "Anjos do Sol", filme de estréia do diretor gaúcho radicado no Rio de Janeiro Rudi Langemann. O longa entra em cartaz nesta sexta-feira em 57 cinemas, em oito capitais: São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Brasília, Salvador, Recife, Florianópolis e Porto Alegre.
Apesar da aridez do assunto, "Anjos do Sol" foi exibido em première mundial no Festival Internacional de Cinema de Miami, em março, vencendo o prêmio do júri popular após disputa com outros 14 títulos de vários países.
De lá para cá, o diretor recebeu algumas propostas de comercialização internacional do filme, que ainda não foram finalizadas. "É um processo lento", conforma-se Langemann, em entrevista à Reuters, em um hotel de São Paulo.
O roteiro de "Anjos do Sol", que vinha sendo pesquisado há cerca de nove anos, recebeu um estímulo importante quando o roteiro foi contemplado num laboratório do Instituto Sundance no Rio de Janeiro em 1998. O diretor garantiu, porém, que a discussão com especialistas nacionais (como os cineastas Jorge Durán e Suzana Amaral) e internacionais, não mudou grande coisa no rumo de sua história, que é ficcional. "Só cortei um segmento do filme que se passava em Brasília", relata.
A expectativa de que a "grife Sundance" facilitasse o financiamento acabou não se cumprindo. O projeto ficou parado um ano e só voltou a ser tocado quando "Anjos do Sol" venceu um concurso do Ministério da Cultura para produções de baixo orçamento, em que obteve 800 mil reais. Mais adiante, a produção foi beneficiada por uma parceria com a Globo Filmes, que se tornou co-produtora. O orçamento alcançou, no final, cerca de 1,5 milhão de reais.
Atores conhecidos somaram-se ao elenco, auxiliando sua conclusão. Chico Díaz, amigo do diretor, foi um dos primeiros a aderir. O produtor de elenco José Antônio Rocha trouxe Vera Holtz e Otávio Augusto. Antônio Calloni, que Langemann não conhecia, apaixonou-se pelo roteiro à primeira vista, assumindo o papel do importante personagem Saraiva, o dono de um bordel que explora meninas.
A maior surpresa, porém, foi a volta da atriz Darlene Glória, a musa de clássicos como "Toda Nudez Será Castigada" (1973), de Arnaldo Jabor, que andava afastada das telas há décadas, desde sua conversão à religião evangélica.
"Pensei nela como uma homenagem a uma diva. Ela caiu como uma luva na sua personagem", define o diretor. No filme, Darlene faz uma cafetina que explora meninas no Rio de Janeiro.
SEM SENSACIONALISMO
A maior parte da ação, porém, passa-se no sertão da Bahia. Logo no início, Maria (a estreante Fernanda Carvalho, que tinha apenas 10 anos na época das filmagens, no final de 2004) é vendida pelos próprios pais a um intermediário (Chico Díaz).
Este revende a garota, junto com outras (como Bianca Comparato, que atuou na novela "Belíssima"), para Nazaré (Vera Holtz), especializada em realizar leilões de menores virgens para comerciantes, empresários e deputados. Maria e outras vão parar num bordel que fica no meio de um garimpo, na Bahia, administrado por Saraiva (Antônio Calloni).
O desafio de trabalhar uma questão polêmica com um elenco em parte menor de idade foi resolvido por Langemann em três frentes. A primeira, através da contratação de duas mulheres como preparadoras de elenco, Paloma Riani e Helena Varvaki.
"Era importante ser delicado e não causar nenhum trauma", preocupou-se o diretor. A segunda providência foi trazer os pais e responsáveis pelas meninas para acompanhar os ensaios e as filmagens. "Eles leram o roteiro antes das garotas", assegura.
Finalmente, o diretor submeteu o filme ao Juizado de Menores do Rio, levando o roteiro, fotos de locação e demais informações sobre o projeto. O rígido juiz carioca Siro Darlan, segundo o diretor, deu o seu aval. "Ele nos disse que considerava nosso trabalho uma coisa séria e não sensacionalista", afirma Langemann.
INSTRUMENTO DE DEBATE
Mesmo sendo este seu primeiro longa, que participa da competição no Festival de Gramado, Langemann está longe de ser um novato no mundo do cinema.
Gaúcho, exerceu diversas funções em filmes de Giba Assis Brasil, Carlos Gerbase e Werner Schunemann, ganhando até o prêmio de melhor ator no Festival de Brasília em 1984, pelo filme "Me Beija", de Schunemann, em que Langemann assinou também o roteiro.
Transferindo-se para o Rio, onde mora até hoje, Langemann participou de vinte longas de ficção em vários postos -- como roteirista de "Kuarup" (1989), de Ruy Guerra, e assistente de direção de Walter Salles e Daniela Thomas em "O Primeiro Dia" (1998).
Sobre as perspectivas de "Anjos do Sol", o diretor pondera: "É um filme duro. Minha proposta era colocar uma discussão, não uma redenção. É um problema social para resolver em 50, 100 anos, porque é uma questão cultural. Mas acho que 'Anjos do Sol' pode se tornar um instrumento de debate", disse.
(Por Neusa Barbosa, do Cineweb)
DIA 25 DE NOVEMBRO
Dia Internacional pela Eliminação da Violência contra a Mulher
20 HORAS
NA SAMEST
RUA PICO DAS BANDEIRAS, 200
JD. EVEREST- HORTOLÂNDIA SP
ENTRADA FRANCA
lançamento: 2006 (Brasil)
direção: Rudi Lagemann
atores: Antônio Calloni (Saraiva) Chico Diaz (Tadeu) Otávio Augusto , Vera Holtz , Darlene Glória , Fernanda Carvalho , Bianca Comparato
duração: 92 min
gênero: Drama
sinopse:
Maria (Fernanda Carvalho) é uma jovem de 12 anos, que mora no interior do nordeste brasileiro. No verão de 2002 ela é vendida por sua família a um recrutador de prostitutas. Após ser comprada em um leilão de meninas virgens, Maria é enviada a um prostíbulo localizado perto de um garimpo, na floresta amazônica. Após meses sofrendo abusos, ela consegue fugir e passa a cruzar o Brasil através de viagens de caminhão. Mas ao chegar no Rio de Janeiro a prostituição volta a cruzar seu caminho.
A exploração sexual infantil, um tema que não costuma frequentar as salas de cinema, está no centro do drama "Anjos do Sol", filme de estréia do diretor gaúcho radicado no Rio de Janeiro Rudi Langemann. O longa entra em cartaz nesta sexta-feira em 57 cinemas, em oito capitais: São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Brasília, Salvador, Recife, Florianópolis e Porto Alegre.
Apesar da aridez do assunto, "Anjos do Sol" foi exibido em première mundial no Festival Internacional de Cinema de Miami, em março, vencendo o prêmio do júri popular após disputa com outros 14 títulos de vários países.
De lá para cá, o diretor recebeu algumas propostas de comercialização internacional do filme, que ainda não foram finalizadas. "É um processo lento", conforma-se Langemann, em entrevista à Reuters, em um hotel de São Paulo.
O roteiro de "Anjos do Sol", que vinha sendo pesquisado há cerca de nove anos, recebeu um estímulo importante quando o roteiro foi contemplado num laboratório do Instituto Sundance no Rio de Janeiro em 1998. O diretor garantiu, porém, que a discussão com especialistas nacionais (como os cineastas Jorge Durán e Suzana Amaral) e internacionais, não mudou grande coisa no rumo de sua história, que é ficcional. "Só cortei um segmento do filme que se passava em Brasília", relata.
A expectativa de que a "grife Sundance" facilitasse o financiamento acabou não se cumprindo. O projeto ficou parado um ano e só voltou a ser tocado quando "Anjos do Sol" venceu um concurso do Ministério da Cultura para produções de baixo orçamento, em que obteve 800 mil reais. Mais adiante, a produção foi beneficiada por uma parceria com a Globo Filmes, que se tornou co-produtora. O orçamento alcançou, no final, cerca de 1,5 milhão de reais.
Atores conhecidos somaram-se ao elenco, auxiliando sua conclusão. Chico Díaz, amigo do diretor, foi um dos primeiros a aderir. O produtor de elenco José Antônio Rocha trouxe Vera Holtz e Otávio Augusto. Antônio Calloni, que Langemann não conhecia, apaixonou-se pelo roteiro à primeira vista, assumindo o papel do importante personagem Saraiva, o dono de um bordel que explora meninas.
A maior surpresa, porém, foi a volta da atriz Darlene Glória, a musa de clássicos como "Toda Nudez Será Castigada" (1973), de Arnaldo Jabor, que andava afastada das telas há décadas, desde sua conversão à religião evangélica.
"Pensei nela como uma homenagem a uma diva. Ela caiu como uma luva na sua personagem", define o diretor. No filme, Darlene faz uma cafetina que explora meninas no Rio de Janeiro.
SEM SENSACIONALISMO
A maior parte da ação, porém, passa-se no sertão da Bahia. Logo no início, Maria (a estreante Fernanda Carvalho, que tinha apenas 10 anos na época das filmagens, no final de 2004) é vendida pelos próprios pais a um intermediário (Chico Díaz).
Este revende a garota, junto com outras (como Bianca Comparato, que atuou na novela "Belíssima"), para Nazaré (Vera Holtz), especializada em realizar leilões de menores virgens para comerciantes, empresários e deputados. Maria e outras vão parar num bordel que fica no meio de um garimpo, na Bahia, administrado por Saraiva (Antônio Calloni).
O desafio de trabalhar uma questão polêmica com um elenco em parte menor de idade foi resolvido por Langemann em três frentes. A primeira, através da contratação de duas mulheres como preparadoras de elenco, Paloma Riani e Helena Varvaki.
"Era importante ser delicado e não causar nenhum trauma", preocupou-se o diretor. A segunda providência foi trazer os pais e responsáveis pelas meninas para acompanhar os ensaios e as filmagens. "Eles leram o roteiro antes das garotas", assegura.
Finalmente, o diretor submeteu o filme ao Juizado de Menores do Rio, levando o roteiro, fotos de locação e demais informações sobre o projeto. O rígido juiz carioca Siro Darlan, segundo o diretor, deu o seu aval. "Ele nos disse que considerava nosso trabalho uma coisa séria e não sensacionalista", afirma Langemann.
INSTRUMENTO DE DEBATE
Mesmo sendo este seu primeiro longa, que participa da competição no Festival de Gramado, Langemann está longe de ser um novato no mundo do cinema.
Gaúcho, exerceu diversas funções em filmes de Giba Assis Brasil, Carlos Gerbase e Werner Schunemann, ganhando até o prêmio de melhor ator no Festival de Brasília em 1984, pelo filme "Me Beija", de Schunemann, em que Langemann assinou também o roteiro.
Transferindo-se para o Rio, onde mora até hoje, Langemann participou de vinte longas de ficção em vários postos -- como roteirista de "Kuarup" (1989), de Ruy Guerra, e assistente de direção de Walter Salles e Daniela Thomas em "O Primeiro Dia" (1998).
Sobre as perspectivas de "Anjos do Sol", o diretor pondera: "É um filme duro. Minha proposta era colocar uma discussão, não uma redenção. É um problema social para resolver em 50, 100 anos, porque é uma questão cultural. Mas acho que 'Anjos do Sol' pode se tornar um instrumento de debate", disse.
(Por Neusa Barbosa, do Cineweb)
quarta-feira, 17 de novembro de 2010
LANÇAMENTO NACIONAL EM HORTOLÂNDIA
FILME: TERRA DEU, TERRA COME
DIRETOR RODRIGO SIQUEIRA
DOCUMENTÁRIO VENCEDOR DO FESTIVAL É TUDO VERDADE
AMANHÃ
QUINTA, 18 DE NOVEMBRO
20 HORAS
ENTRADA FRANCA
NA SAMEST
RUA PICO DAS BANDEIRAS, 200
JD. EVEREST- HORTOLÂNDIA SP
ENTREVISTA COM RODRIGO SIQUEIRA
ENTREVISTA COM RODRIGO SIQUEIRA, DIRETOR DO DOCUMENTÁRIO TERRA DEU TERRA COME
VENCEDOR DO FESTIVAL É TUDO VERDADE 2010
UM LANÇAMENTO NACIONAL EM HORTOLÂNDIA
Rodrigo Siqueira (Terra Deu, Terra Come)
Heitor Augusto
Terra Deu, Terra Come é o melhor filme brasileiro de 2010 até o momento, na opinião deste repórter. Não é exagero: o documentário vencedor do É Tudo Verdade, um dos mais importantes festivais do mundo do gênero, transporta o espectador para as raízes do Brasil que estão dentro de nós, mesmo que não as notemos.
Quem nos introduz no mergulho é seu Pedro de Alexina, uma figura mítica de Diamantina, Minas Gerais. “Em 1999, meu Amigo Gil Amâncio me contou de dois velhos que conversavam por dialeto. Guardei aquilo num canto da minha cabeça. Logo depois, iniciei uma viagem pelo sertão”, conta o diretor Rodrigo Siqueira ao Cineclick.
Nessa entrevista por e-mail, o leitor vai perceber que Siqueira passou por uma epopeia sertaneja até encontrar lá fora o filme que existia dentro de si. E tudo começou com uma conversa sobre dois velhos que conversavam em dialeto e com Guimarães Rosa e Grande Sertão: Veredas debaixo do braço. O resto você confere na prosa abaixo:
Como você chegou ao seu Pedro de Alexina, o personagem principal de seu filme?
Em 1999, meu amigo Gil Amâncio me contou sobre dois velhos na região de Diamantina que cantavam em um dialeto africano e também tinham um costume muito curioso: os dois se comunicavam através de gritos (em dialeto) a uma distância de meia légua. Um gritava em direção à casa do outro, por um vale, e aguardava a mudança do vento para receber uma resposta. Na época achei interessante e isso ficou armazenado em alguma gavetinha da minha memória.
Cinco anos depois estava mergulhado na leitura do Grande Sertão: Veredas, do Guimarães Rosa, e decidi fazer uma viagem pelo sertão que ele retratou em suas obras. Estava interessado em ver o sertão e ouvir as histórias sobre o sertão. Sabia que muitos dos mitos que estavam na literatura rosiana estavam vivos no interior de Minas Gerais. Quando criança me cansei de ouvir histórias sobre fulanos que tinham parte com o capeta. Em geral, tomava-se “parte” para se prosperar na vida. Aliás, li uma vez que Goethe escreveu o Fausto estimulado por narrativas orais que ouviu quando criança na Alemanha e de saltimbancos que apresentavam este mito em teatro de bonecos.
Então estava curioso para encontrar pessoas que tivessem feito um pacto ou que eventualmente soubessem como se faz ou que soubessem histórias sobre o “Sujo” [Diabo]. Peguei a minha câmera e saí em viagem de férias/pesquisa. Iniciei a viagem pela Serra Do Cipó, passei por Conceição do Mato Dentro, Serro, Milho Verde e São Gonçalo do Rio das Pedras, que é um lugar maravilhoso e onde terminei de ler o Grande Sertão. Em São Gonçalo falei com benzedeiras e ouvi algumas histórias de “mandraquices”, corpo fechado, assombrações.
Foi lá também que estava lendo o conto O recado do morro, do livro No Urubuquaquá no Pinhém, do Rosa, em que um personagem menciona a existência do hábito de pessoas se comunicarem por gritos na região do Pico do Itambé. Na hora me lembrei da história que o Gil Amâncio havia me contado e me dei conta que eu estava exatamente na região do Pico do Itambé, que fica na Serra Do Espinhaço. Liguei para o Gil e ele me passou o contato da Lúcia Nascimento, etnolinguista que tinha o contato dos dois velhos (Pedro e Paulo). Ela estava viajando, mas me disse por telefone que fosse de boca em boca e porta em porta procurando pelo Seu Pedro em São João da Chapada eu o encontraria. E assim foi.
Quando vocês chegaram em Diamantina?
Em dia 30 de dezembro de 2004. Lá, comprei o livro O Negro e o Garimpo em Minas Gerais, um clássico da editora Itatiaia em que o professor Aires da Mata Machado descreve os 67 vissungos que coletou na região de São João da Chapada, no final da década de 1930. Para quem não sabe, os vissungos são as cantigas de trabalho e de rituais fúnebres cantadas em dialeto “banguela”, que é uma mistura de línguas africanas de matriz banto com o português. E foi na toada destas leituras e acasos que encontrei seu Pedro.
A nossa viagem prosseguiu e ainda passamos por Cordisburgo, cidade onde nasceu Guimarães Rosa; Morro da Garça; São Francisco, que é a cidade em que Zé Bebelo entra com 600 jagunços, numa das passagens do Grande Sertão: Veredas; Montes Claros; Serra das Araras; Chapada Gaúcha, lugar onde alguns garantem ser o mesmo que o famoso Liso do Sussuarão; Vão dos Buracos, este que no livro é conhecido como o Vão do Oco, um lugar descrito como cheio de onças e chagas e que é o último lugar por onde Riobaldo passa antes de tentar a travessia do Liso do Sussuarão pela segunda vez; Rio Pardo; Parque Nacional Grande Sertão: Veredas, onde conseguimos beber água em uma típica vereda cheia de buritizais e nadamos no encontro do Rio Carinhanha com o Rio Pardo; depois descemos para o Urucuia, Arinos e terminamos a nossa viagem em Brasília, antes de retornar a São Paulo.
Caramba, que viagem longa!
Durante este percurso falei com vários contadores de histórias, gravei e fotografei muita coisa. A propósito, em Serra das Araras conheci o seu Leôncio, um senhor que estava na ocasião com 96 anos, vaqueiro que fora também jagunço do bando de Antônio Dó, cuja história dizem que o Rosa conheceu e se inspirou para construir personagens de jagunços e histórias de batalhas. No Vão dos Buracos, enquanto as mulheres socavam uma paçoca de carne de sol no pilão de madeira, aprendi com seu Antônio que para se ver o Demo dentro de um redemoinho (“o Diabo na rua, no meio do redemoinho”) é preciso lhe virar as costas e olhar por debaixo das próprias pernas. Foi também em um mirante à beira do Vão dos Buracos, que é um canyon maravilhoso onde as araras fazem seus ninhos, onde encontrei um casal de escoceses e um casal de cariocas que estavam ali movidos pelo mesmo desejo de descobrir o sertão de Guimarães Rosa. Quando encostei o carro, me dirigi a um deles e perguntei, gaiato: É aqui que é o Liso do Sussuarão? E a resposta veio no mesmo tom: “Uai, se você souber onde é, a gente também quer saber”.
Como foi o primeiro contato com o seu Pedro? Você pensava em fazer um filme que falasse de um pedaço do Brasil ou só sobre o personagem?
Encontrei seu Pedro no dia 1º de janeiro de 2005. Cheguei à casa dele e ele não estava. Dona Lúcia [a esposa] mandou chamá-lo e eu fiquei aguardando. Quando ouvi a voz dele cantando à distancia no meio do mato, saí da casa para recebê-lo já com a câmera ligada. Nosso primeiro encontro já foi mediado pela câmera. Ele me cumprimentou e entramos na casa e nas 3 horas seguintes passei conversando e gravando ele falar e cantar. Percebi imediatamente a força, o carisma, a inteligência e a “estrela” que seu Pedro tem.
Quando desliguei a câmera ao final de 3 horas, lhe disse:
Seu Pedro, quero voltar aqui pra fazer um filme com o senhor.
Garimpeiro que sempre foi e acostumado a catirar, ele me respondeu:
Quem sabe quando você voltar aqui você não me traz uma sanfona?
Só voltei lá quando encontrei a sanfona do jeito que ele queria.
Diante de tudo o que seu Pedro carrega e representa, fazer um filme sobre o personagem Pedro de cara já seria fazer um filme sobre um pedaço mítico do Brasil, sobre memória oral, cultura popular, vissungos, história do Brasil colonial, ciclo da mineração, Guimarães Rosa etc etc etc. E ele é uma figura humana extraordinária, complexa, ambígua, rica. O filme é resultado deste encontro entre os nossos mundos diferentes.
Como me disse o Eduardo Coutinho: O seu Pedro entrou no seu mundo até onde dava, você entrou no dele até onde dava e em uma acomodação de acasos, deste encontro entre os dois mundos, saiu um troço. Que é único. E esse troço se deu diante da câmera. Posso dizer que neste nosso encontro o santo dele bateu com o meu e o filme deu no que deu.
Você acha que “Terra Deu, Terra Come” existiria se não houvesse Guimarães Rosa e sua obra? Hipoteticamente, seria possível pensar no seu documentário sem ter sentido Guimarães dentro de si?
Encontrei vários outros personagens e pessoas interessantes nesta mesma viagem de imersão pelo sertão rosiano. Encontrei outras várias histórias e mitos que estão na obra do Rosa, mas nada disso tudo se compara ao encontro com seu Pedro.
Acho que em qualquer circunstância que o encontrasse eu quereria fazer um filme com ele. Porque é impossível encontrá-lo e não se encantar com ele e com o mundo mítico em que ele vive. Porque ele talvez também seja um arquétipo do sertão que o próprio Guimarães Rosa encontrou e pelo qual ficou encantado. Se não existisse o Guimarães Rosa, seu Pedro existiria mesmo assim. O contrário eu não sei dizer. Mas é provável que sim, como o próprio Rosa nos deixou escrito: Deus escreve certo por veredas tortas. E, de certa maneira, podemos chamar Deus de uma representação do Acaso.
É muito difícil conseguir o que você conseguiu, um clima de naturalidade e uma clara atuação de seu Pedro pra câmera, tudo junto! Dá pra remontar esse processo de abordagem? É possível falar de um método de aproximação? Qual foi a resposta dele pra aquele bando de gente com luz, vara de boom, indo pra lá e pra cá?
Como disse, meu primeiro encontro com seu Pedro foi mediado pela câmera. Ali já assinamos um contrato, mesmo que inconscientemente. Se neste encontro ele me rejeitasse ou rejeitasse a câmera, o filme não existiria como é. Depois desse primeiro encontro, voltei à casa dele diversas vezes, algumas com a câmera, outras sem nada, de modo que teve um longo processo de aproximação e aprofundamento da nossa relação.
Quando fui filmar em 2007, optei por uma equipe mínima, sem grandes aparatos e artefatos. Acho que essa estrutura de equipe de cinema cheia de gente engessa demais os acontecimentos ou intimida as possibilidades de manifestação do acaso, por assim dizer. A equipe era o Pierre de Kerchove, fotógrafo; o Célio Dutra, técnico de som; e o Ricardo Magozo, assistente de câmera e de produção. O quinto elemento desta turma era o Genilson, motorista, que seu Pedro já conhecia de Diamantina. Esta equipe reduzida me possibilitava criar uma certa distância íntima com ele e os seus familiares.
Quando cheguei para filmar, apresentei cuidadosamente cada pessoa da equipe e expliquei o que cada um estava fazendo, como funcionava a dinâmica de filmagem, a função dos equipamentos. A resposta foi sensacional, antes de começarmos a filmar, seu Pedro conduziu cada um da equipe até o seu quarto e nos benzeu um a um. Desta maneira, iniciamos a caminhada alinhados em uma mesma vereda, sintonia.
E a mise-en-scène de seu Pedro?
Quanto à atuação, fica por conta da natureza do que estávamos documentando. Seu Pedro é um contador de histórias, de causos, e naturalmente um ator, um performer. Quem cresceu em Minas ouvindo histórias sabe o que é isso. O causo tem uma natureza dúbia, ambígua, que entretém o ouvinte e o coloca em dúvida sobre a veracidade do narrado. Ou outras vezes nos surpreende com situações fantásticas ou improváveis. Quando estava filmando, em muitas situações eu não sabia se o que seu Pedro me contava era verdade, ou era um causo, ou era uma atuação, ou se ele estava me enganando.
E Terra Deu, Terra Come representa um pouco da essência do modo como ele Pedro narra a sua vida, o seu mundo mítico. Procurei levar para a montagem a maneira com que ele nos conta as histórias, e que muitas vezes passa longe da narrativa ocidental e racional a que estamos acostumados. A cultura oral é um caldo que tem matriz variada e caminha no mundo há milênios, tem muitas vezes uma estrutura circular, porosa em que o ouvinte participa completando a narrativa com sua própria imaginação. O que procurei fazer foi passar ao filme um pouco deste modo narrativo da cultura de matriz oral e especificamente do modo dele Pedro narrar histórias. De certo, modo trata-se de um cine-causo.
Por que deixar só para o final a explicação de quem é seu Pedro de Alexina? Com o que você tinha filmado já estava confiante o suficiente de que não era necessário antes de chegar na ilha de edição?
Não queria fazer um filme que dissesse isto é isto, isto é aquilo, explicativo, quis fazer um filme que narrasse a si mesmo. O modo que encontrei foi este que está nele. As pessoas vão construindo a história à medida que o filme se desenrola. Nunca tive certeza de nada, na verdade. Passei momentos de muita insegurança e desespero até. Teve momentos que achei que a proposta que me havia feito não era realizável, mas teimei.
Quando terminei o corte não havia a explicação e estava satisfeito, mas era um entendimento muito de quem está mergulhado no material. Fiz alguns testes mostrando o filme a alguns amigos e cheguei à conclusão que precisava acrescentar alguns elementos mais para que o filme se tornasse um pouco mais compreensível. Além dos letreiros, há durante o filme algumas pistas que ajudam o espectador a juntar as peças, há algumas repetições como nas técnicas de narrativa oral, e como, aliás, o rádio usa muito bem. Mas como todo o processo foi aberto, resolvi introduzir elementos que melhor situassem o espectador, mas que preservasse este caráter de narrativa aberta, que é fiel ao processo de filmagem e da minha relação com o seu Pedro durante todo o ciclo do filme, e próximo da narrar “desmanchando” do Guimarães Rosa.
Como documentarista, o que é mais difícil de filmar: a memória ou a morte? Por que?
A memória. Porque a memória é variável, gasosa, inconstante e incerta. A morte é definitiva. Mas quando a morte entra para o universo da memória e da invenção a coisa cresce e fica muito mais interessante e instigante. Deixa de ser definitiva e passa a ser infinito, vira Deus. Como na narrativa do início do filme, que passa de geração a geração, que faz parte de uma memória mítica e que descreve uma certa teogonia da Morte.
Nas suas andanças e conversas com quem vive em Diamantina, como os mais jovens veem seu Pedro e o que representa? A tradição oral ainda reverbera na molecada?
Como o próprio seu Pedro diz no filme, os jovens estão deixando de se interessar pelas tradições para aderir à televisão, ao rádio e a essa cultura de massa pasteurizada que tudo sufoca. Mas há esperança. No período que passamos lá filmando percebi que os jovens nos olhavam espantados, como que a nos dizer: o que tem de tão importante com este velho que estas pessoas vêm de tão longe para falar com ele? Alguns também já o observavam com mais atenção, querendo aprender.
Tive notícias de que tem aumentado a frequência de gente que vai procurar o seu Pedro para falar com ele, para aprender sobre o que ele sabe. Este interesse pode ter um efeito multiplicador. E talvez o filme possa contribuir para isso, despertar nos jovens o interesse em aprender mais sobre esta riqueza cultural que os rodeia.
Uma ação concreta que estou fazendo é o projeto educativo do filme. Vou distribuir DVDs a todas as escolas públicas da região de Diamantina. O secretário municipal de educação manifestou interesse em capacitar uma centena de professores para trabalhar os conteúdos do filme em sala de aula. Também estou articulando com a Representação da UNESCO no Brasil para construir uma metodologia para estes conteúdos chegarem aos jovens. A UNESCO tem um programa que se chama Tesouros Humanos Vivos, que busca valorizar estas pessoas que são detentoras de saberes representativos e fundamentais para a cultura de uma comunidade. E o seu Pedro, sem sombra de dúvidas, é um verdadeiro tesouro humano vivo.
Seu Pedro viu o filme?
Viu duas vezes. A primeira quando estava prestes a terminar o último corte, em dezembro de 2009, e fui até a casa dele para mostrá-lo. Sentado na cozinha, a beira do fogão à lenha, ele e dona Lúcia assistiram ao filme. Ele não teceu muitos comentários, mas o brilho nos olhos e a cara de satisfação estampada no rosto dele não me deixou dúvida. Ao final, perguntei se alguma coisa no filme o desagradava. Eu tinha receio por algumas histórias que ele conta no filme que são fortes e que poderiam lhe causar algum problema. Mas ele se manteve firme em tudo que disse. Isso só confirmou que ele sempre esteve inteiro no filme. O homem é de uma integridade espantosa.
A segunda vez foi durante o Festival de Inverno da UFMG, em julho de 2010. Armamos uma tela com projetor no Quartel do Indaiá, bem em frente ao boteco do Pidrim Pessanha. Esta exibição foi emocionante. Pela primeira vez todas as pessoas que participaram do filme o viram juntas. Assisti ao filme entre os dois Pedros. E foi incrível ver como estavam fascinados e satisfeitos. Seu Pidrim não parava de rir. E seu Pedro de Alexina ficava reafirmando as histórias que ele aparecia contando no filme.
Ao final, tomamos cachaça e seu Pedro começou a cantar versos de improviso e a desafiar as pessoas a cantarem com ele. Fez troça de mim, provocou, mas fiquei quieto no meu canto que não sou bobo. Aliás, ninguém se atreveu a encarar o desafio do velho. E ele cantou sozinho.
Quem propôs o quê na encenação do terceiro capítulo do filme?
Heitor, acho que este assunto torna-se muitíssimo mais interessante depois que as pessoas virem o filme. De maneira que vou me esquivar da pergunta em favor do público.
Em Gramado, você me disse que está começando a embarcar num filme sobre Anistia. Como você vai de algo, digamos, das raízes de um Brasil ancestral (do diamante e o oral) – sem juízo de valor nessa afirmação – para um país do agora, ou pelo menos do ontem?
Não posso falar muito ainda sobre este projeto, mas posso garantir que a ambiguidade continuará sendo o meu principal foco de interesse. O titulo provisório do filme é Orestes – Verdade Simulada. O documentário vai caminhar por um terreno em que a tragédia grega de Ésquilo encontra a construção da verdade histórica no Brasil de hoje. A palavra escrita e a palavra falada tornam-se o ponto de fricção que origina o filme, que também colocará em confronto a Lei de Anistia, de 1979, e o código penal brasileiro. Crime político e crime comum (parricídio) serão duas faces de uma mesma construção da verdade possível (?). Trata-se de um documentário de pesquisa de linguagem, uma busca pessoal que já aponta para um terceiro filme em que pretendo voltar ao imaginário popular brasileiro.
VENCEDOR DO FESTIVAL É TUDO VERDADE 2010
UM LANÇAMENTO NACIONAL EM HORTOLÂNDIA
Rodrigo Siqueira (Terra Deu, Terra Come)
Heitor Augusto
Terra Deu, Terra Come é o melhor filme brasileiro de 2010 até o momento, na opinião deste repórter. Não é exagero: o documentário vencedor do É Tudo Verdade, um dos mais importantes festivais do mundo do gênero, transporta o espectador para as raízes do Brasil que estão dentro de nós, mesmo que não as notemos.
Quem nos introduz no mergulho é seu Pedro de Alexina, uma figura mítica de Diamantina, Minas Gerais. “Em 1999, meu Amigo Gil Amâncio me contou de dois velhos que conversavam por dialeto. Guardei aquilo num canto da minha cabeça. Logo depois, iniciei uma viagem pelo sertão”, conta o diretor Rodrigo Siqueira ao Cineclick.
Nessa entrevista por e-mail, o leitor vai perceber que Siqueira passou por uma epopeia sertaneja até encontrar lá fora o filme que existia dentro de si. E tudo começou com uma conversa sobre dois velhos que conversavam em dialeto e com Guimarães Rosa e Grande Sertão: Veredas debaixo do braço. O resto você confere na prosa abaixo:
Como você chegou ao seu Pedro de Alexina, o personagem principal de seu filme?
Em 1999, meu amigo Gil Amâncio me contou sobre dois velhos na região de Diamantina que cantavam em um dialeto africano e também tinham um costume muito curioso: os dois se comunicavam através de gritos (em dialeto) a uma distância de meia légua. Um gritava em direção à casa do outro, por um vale, e aguardava a mudança do vento para receber uma resposta. Na época achei interessante e isso ficou armazenado em alguma gavetinha da minha memória.
Cinco anos depois estava mergulhado na leitura do Grande Sertão: Veredas, do Guimarães Rosa, e decidi fazer uma viagem pelo sertão que ele retratou em suas obras. Estava interessado em ver o sertão e ouvir as histórias sobre o sertão. Sabia que muitos dos mitos que estavam na literatura rosiana estavam vivos no interior de Minas Gerais. Quando criança me cansei de ouvir histórias sobre fulanos que tinham parte com o capeta. Em geral, tomava-se “parte” para se prosperar na vida. Aliás, li uma vez que Goethe escreveu o Fausto estimulado por narrativas orais que ouviu quando criança na Alemanha e de saltimbancos que apresentavam este mito em teatro de bonecos.
Então estava curioso para encontrar pessoas que tivessem feito um pacto ou que eventualmente soubessem como se faz ou que soubessem histórias sobre o “Sujo” [Diabo]. Peguei a minha câmera e saí em viagem de férias/pesquisa. Iniciei a viagem pela Serra Do Cipó, passei por Conceição do Mato Dentro, Serro, Milho Verde e São Gonçalo do Rio das Pedras, que é um lugar maravilhoso e onde terminei de ler o Grande Sertão. Em São Gonçalo falei com benzedeiras e ouvi algumas histórias de “mandraquices”, corpo fechado, assombrações.
Foi lá também que estava lendo o conto O recado do morro, do livro No Urubuquaquá no Pinhém, do Rosa, em que um personagem menciona a existência do hábito de pessoas se comunicarem por gritos na região do Pico do Itambé. Na hora me lembrei da história que o Gil Amâncio havia me contado e me dei conta que eu estava exatamente na região do Pico do Itambé, que fica na Serra Do Espinhaço. Liguei para o Gil e ele me passou o contato da Lúcia Nascimento, etnolinguista que tinha o contato dos dois velhos (Pedro e Paulo). Ela estava viajando, mas me disse por telefone que fosse de boca em boca e porta em porta procurando pelo Seu Pedro em São João da Chapada eu o encontraria. E assim foi.
Quando vocês chegaram em Diamantina?
Em dia 30 de dezembro de 2004. Lá, comprei o livro O Negro e o Garimpo em Minas Gerais, um clássico da editora Itatiaia em que o professor Aires da Mata Machado descreve os 67 vissungos que coletou na região de São João da Chapada, no final da década de 1930. Para quem não sabe, os vissungos são as cantigas de trabalho e de rituais fúnebres cantadas em dialeto “banguela”, que é uma mistura de línguas africanas de matriz banto com o português. E foi na toada destas leituras e acasos que encontrei seu Pedro.
A nossa viagem prosseguiu e ainda passamos por Cordisburgo, cidade onde nasceu Guimarães Rosa; Morro da Garça; São Francisco, que é a cidade em que Zé Bebelo entra com 600 jagunços, numa das passagens do Grande Sertão: Veredas; Montes Claros; Serra das Araras; Chapada Gaúcha, lugar onde alguns garantem ser o mesmo que o famoso Liso do Sussuarão; Vão dos Buracos, este que no livro é conhecido como o Vão do Oco, um lugar descrito como cheio de onças e chagas e que é o último lugar por onde Riobaldo passa antes de tentar a travessia do Liso do Sussuarão pela segunda vez; Rio Pardo; Parque Nacional Grande Sertão: Veredas, onde conseguimos beber água em uma típica vereda cheia de buritizais e nadamos no encontro do Rio Carinhanha com o Rio Pardo; depois descemos para o Urucuia, Arinos e terminamos a nossa viagem em Brasília, antes de retornar a São Paulo.
Caramba, que viagem longa!
Durante este percurso falei com vários contadores de histórias, gravei e fotografei muita coisa. A propósito, em Serra das Araras conheci o seu Leôncio, um senhor que estava na ocasião com 96 anos, vaqueiro que fora também jagunço do bando de Antônio Dó, cuja história dizem que o Rosa conheceu e se inspirou para construir personagens de jagunços e histórias de batalhas. No Vão dos Buracos, enquanto as mulheres socavam uma paçoca de carne de sol no pilão de madeira, aprendi com seu Antônio que para se ver o Demo dentro de um redemoinho (“o Diabo na rua, no meio do redemoinho”) é preciso lhe virar as costas e olhar por debaixo das próprias pernas. Foi também em um mirante à beira do Vão dos Buracos, que é um canyon maravilhoso onde as araras fazem seus ninhos, onde encontrei um casal de escoceses e um casal de cariocas que estavam ali movidos pelo mesmo desejo de descobrir o sertão de Guimarães Rosa. Quando encostei o carro, me dirigi a um deles e perguntei, gaiato: É aqui que é o Liso do Sussuarão? E a resposta veio no mesmo tom: “Uai, se você souber onde é, a gente também quer saber”.
Como foi o primeiro contato com o seu Pedro? Você pensava em fazer um filme que falasse de um pedaço do Brasil ou só sobre o personagem?
Encontrei seu Pedro no dia 1º de janeiro de 2005. Cheguei à casa dele e ele não estava. Dona Lúcia [a esposa] mandou chamá-lo e eu fiquei aguardando. Quando ouvi a voz dele cantando à distancia no meio do mato, saí da casa para recebê-lo já com a câmera ligada. Nosso primeiro encontro já foi mediado pela câmera. Ele me cumprimentou e entramos na casa e nas 3 horas seguintes passei conversando e gravando ele falar e cantar. Percebi imediatamente a força, o carisma, a inteligência e a “estrela” que seu Pedro tem.
Quando desliguei a câmera ao final de 3 horas, lhe disse:
Seu Pedro, quero voltar aqui pra fazer um filme com o senhor.
Garimpeiro que sempre foi e acostumado a catirar, ele me respondeu:
Quem sabe quando você voltar aqui você não me traz uma sanfona?
Só voltei lá quando encontrei a sanfona do jeito que ele queria.
Diante de tudo o que seu Pedro carrega e representa, fazer um filme sobre o personagem Pedro de cara já seria fazer um filme sobre um pedaço mítico do Brasil, sobre memória oral, cultura popular, vissungos, história do Brasil colonial, ciclo da mineração, Guimarães Rosa etc etc etc. E ele é uma figura humana extraordinária, complexa, ambígua, rica. O filme é resultado deste encontro entre os nossos mundos diferentes.
Como me disse o Eduardo Coutinho: O seu Pedro entrou no seu mundo até onde dava, você entrou no dele até onde dava e em uma acomodação de acasos, deste encontro entre os dois mundos, saiu um troço. Que é único. E esse troço se deu diante da câmera. Posso dizer que neste nosso encontro o santo dele bateu com o meu e o filme deu no que deu.
Você acha que “Terra Deu, Terra Come” existiria se não houvesse Guimarães Rosa e sua obra? Hipoteticamente, seria possível pensar no seu documentário sem ter sentido Guimarães dentro de si?
Encontrei vários outros personagens e pessoas interessantes nesta mesma viagem de imersão pelo sertão rosiano. Encontrei outras várias histórias e mitos que estão na obra do Rosa, mas nada disso tudo se compara ao encontro com seu Pedro.
Acho que em qualquer circunstância que o encontrasse eu quereria fazer um filme com ele. Porque é impossível encontrá-lo e não se encantar com ele e com o mundo mítico em que ele vive. Porque ele talvez também seja um arquétipo do sertão que o próprio Guimarães Rosa encontrou e pelo qual ficou encantado. Se não existisse o Guimarães Rosa, seu Pedro existiria mesmo assim. O contrário eu não sei dizer. Mas é provável que sim, como o próprio Rosa nos deixou escrito: Deus escreve certo por veredas tortas. E, de certa maneira, podemos chamar Deus de uma representação do Acaso.
É muito difícil conseguir o que você conseguiu, um clima de naturalidade e uma clara atuação de seu Pedro pra câmera, tudo junto! Dá pra remontar esse processo de abordagem? É possível falar de um método de aproximação? Qual foi a resposta dele pra aquele bando de gente com luz, vara de boom, indo pra lá e pra cá?
Como disse, meu primeiro encontro com seu Pedro foi mediado pela câmera. Ali já assinamos um contrato, mesmo que inconscientemente. Se neste encontro ele me rejeitasse ou rejeitasse a câmera, o filme não existiria como é. Depois desse primeiro encontro, voltei à casa dele diversas vezes, algumas com a câmera, outras sem nada, de modo que teve um longo processo de aproximação e aprofundamento da nossa relação.
Quando fui filmar em 2007, optei por uma equipe mínima, sem grandes aparatos e artefatos. Acho que essa estrutura de equipe de cinema cheia de gente engessa demais os acontecimentos ou intimida as possibilidades de manifestação do acaso, por assim dizer. A equipe era o Pierre de Kerchove, fotógrafo; o Célio Dutra, técnico de som; e o Ricardo Magozo, assistente de câmera e de produção. O quinto elemento desta turma era o Genilson, motorista, que seu Pedro já conhecia de Diamantina. Esta equipe reduzida me possibilitava criar uma certa distância íntima com ele e os seus familiares.
Quando cheguei para filmar, apresentei cuidadosamente cada pessoa da equipe e expliquei o que cada um estava fazendo, como funcionava a dinâmica de filmagem, a função dos equipamentos. A resposta foi sensacional, antes de começarmos a filmar, seu Pedro conduziu cada um da equipe até o seu quarto e nos benzeu um a um. Desta maneira, iniciamos a caminhada alinhados em uma mesma vereda, sintonia.
E a mise-en-scène de seu Pedro?
Quanto à atuação, fica por conta da natureza do que estávamos documentando. Seu Pedro é um contador de histórias, de causos, e naturalmente um ator, um performer. Quem cresceu em Minas ouvindo histórias sabe o que é isso. O causo tem uma natureza dúbia, ambígua, que entretém o ouvinte e o coloca em dúvida sobre a veracidade do narrado. Ou outras vezes nos surpreende com situações fantásticas ou improváveis. Quando estava filmando, em muitas situações eu não sabia se o que seu Pedro me contava era verdade, ou era um causo, ou era uma atuação, ou se ele estava me enganando.
E Terra Deu, Terra Come representa um pouco da essência do modo como ele Pedro narra a sua vida, o seu mundo mítico. Procurei levar para a montagem a maneira com que ele nos conta as histórias, e que muitas vezes passa longe da narrativa ocidental e racional a que estamos acostumados. A cultura oral é um caldo que tem matriz variada e caminha no mundo há milênios, tem muitas vezes uma estrutura circular, porosa em que o ouvinte participa completando a narrativa com sua própria imaginação. O que procurei fazer foi passar ao filme um pouco deste modo narrativo da cultura de matriz oral e especificamente do modo dele Pedro narrar histórias. De certo, modo trata-se de um cine-causo.
Por que deixar só para o final a explicação de quem é seu Pedro de Alexina? Com o que você tinha filmado já estava confiante o suficiente de que não era necessário antes de chegar na ilha de edição?
Não queria fazer um filme que dissesse isto é isto, isto é aquilo, explicativo, quis fazer um filme que narrasse a si mesmo. O modo que encontrei foi este que está nele. As pessoas vão construindo a história à medida que o filme se desenrola. Nunca tive certeza de nada, na verdade. Passei momentos de muita insegurança e desespero até. Teve momentos que achei que a proposta que me havia feito não era realizável, mas teimei.
Quando terminei o corte não havia a explicação e estava satisfeito, mas era um entendimento muito de quem está mergulhado no material. Fiz alguns testes mostrando o filme a alguns amigos e cheguei à conclusão que precisava acrescentar alguns elementos mais para que o filme se tornasse um pouco mais compreensível. Além dos letreiros, há durante o filme algumas pistas que ajudam o espectador a juntar as peças, há algumas repetições como nas técnicas de narrativa oral, e como, aliás, o rádio usa muito bem. Mas como todo o processo foi aberto, resolvi introduzir elementos que melhor situassem o espectador, mas que preservasse este caráter de narrativa aberta, que é fiel ao processo de filmagem e da minha relação com o seu Pedro durante todo o ciclo do filme, e próximo da narrar “desmanchando” do Guimarães Rosa.
Como documentarista, o que é mais difícil de filmar: a memória ou a morte? Por que?
A memória. Porque a memória é variável, gasosa, inconstante e incerta. A morte é definitiva. Mas quando a morte entra para o universo da memória e da invenção a coisa cresce e fica muito mais interessante e instigante. Deixa de ser definitiva e passa a ser infinito, vira Deus. Como na narrativa do início do filme, que passa de geração a geração, que faz parte de uma memória mítica e que descreve uma certa teogonia da Morte.
Nas suas andanças e conversas com quem vive em Diamantina, como os mais jovens veem seu Pedro e o que representa? A tradição oral ainda reverbera na molecada?
Como o próprio seu Pedro diz no filme, os jovens estão deixando de se interessar pelas tradições para aderir à televisão, ao rádio e a essa cultura de massa pasteurizada que tudo sufoca. Mas há esperança. No período que passamos lá filmando percebi que os jovens nos olhavam espantados, como que a nos dizer: o que tem de tão importante com este velho que estas pessoas vêm de tão longe para falar com ele? Alguns também já o observavam com mais atenção, querendo aprender.
Tive notícias de que tem aumentado a frequência de gente que vai procurar o seu Pedro para falar com ele, para aprender sobre o que ele sabe. Este interesse pode ter um efeito multiplicador. E talvez o filme possa contribuir para isso, despertar nos jovens o interesse em aprender mais sobre esta riqueza cultural que os rodeia.
Uma ação concreta que estou fazendo é o projeto educativo do filme. Vou distribuir DVDs a todas as escolas públicas da região de Diamantina. O secretário municipal de educação manifestou interesse em capacitar uma centena de professores para trabalhar os conteúdos do filme em sala de aula. Também estou articulando com a Representação da UNESCO no Brasil para construir uma metodologia para estes conteúdos chegarem aos jovens. A UNESCO tem um programa que se chama Tesouros Humanos Vivos, que busca valorizar estas pessoas que são detentoras de saberes representativos e fundamentais para a cultura de uma comunidade. E o seu Pedro, sem sombra de dúvidas, é um verdadeiro tesouro humano vivo.
Seu Pedro viu o filme?
Viu duas vezes. A primeira quando estava prestes a terminar o último corte, em dezembro de 2009, e fui até a casa dele para mostrá-lo. Sentado na cozinha, a beira do fogão à lenha, ele e dona Lúcia assistiram ao filme. Ele não teceu muitos comentários, mas o brilho nos olhos e a cara de satisfação estampada no rosto dele não me deixou dúvida. Ao final, perguntei se alguma coisa no filme o desagradava. Eu tinha receio por algumas histórias que ele conta no filme que são fortes e que poderiam lhe causar algum problema. Mas ele se manteve firme em tudo que disse. Isso só confirmou que ele sempre esteve inteiro no filme. O homem é de uma integridade espantosa.
A segunda vez foi durante o Festival de Inverno da UFMG, em julho de 2010. Armamos uma tela com projetor no Quartel do Indaiá, bem em frente ao boteco do Pidrim Pessanha. Esta exibição foi emocionante. Pela primeira vez todas as pessoas que participaram do filme o viram juntas. Assisti ao filme entre os dois Pedros. E foi incrível ver como estavam fascinados e satisfeitos. Seu Pidrim não parava de rir. E seu Pedro de Alexina ficava reafirmando as histórias que ele aparecia contando no filme.
Ao final, tomamos cachaça e seu Pedro começou a cantar versos de improviso e a desafiar as pessoas a cantarem com ele. Fez troça de mim, provocou, mas fiquei quieto no meu canto que não sou bobo. Aliás, ninguém se atreveu a encarar o desafio do velho. E ele cantou sozinho.
Quem propôs o quê na encenação do terceiro capítulo do filme?
Heitor, acho que este assunto torna-se muitíssimo mais interessante depois que as pessoas virem o filme. De maneira que vou me esquivar da pergunta em favor do público.
Em Gramado, você me disse que está começando a embarcar num filme sobre Anistia. Como você vai de algo, digamos, das raízes de um Brasil ancestral (do diamante e o oral) – sem juízo de valor nessa afirmação – para um país do agora, ou pelo menos do ontem?
Não posso falar muito ainda sobre este projeto, mas posso garantir que a ambiguidade continuará sendo o meu principal foco de interesse. O titulo provisório do filme é Orestes – Verdade Simulada. O documentário vai caminhar por um terreno em que a tragédia grega de Ésquilo encontra a construção da verdade histórica no Brasil de hoje. A palavra escrita e a palavra falada tornam-se o ponto de fricção que origina o filme, que também colocará em confronto a Lei de Anistia, de 1979, e o código penal brasileiro. Crime político e crime comum (parricídio) serão duas faces de uma mesma construção da verdade possível (?). Trata-se de um documentário de pesquisa de linguagem, uma busca pessoal que já aponta para um terceiro filme em que pretendo voltar ao imaginário popular brasileiro.
segunda-feira, 15 de novembro de 2010
LANÇAMENTO NACIONAL NO CINE EVEREST
O CINE EVEREST APRESENTA:
TERRA DEU, TERRA COME
UM FILME DE RODRIGO SIQUEIRA
VENCEDOR DO FESTIVAL "É TUDO VERDADE- 2010"
ENTRADA FRANCA
QUINTA, 18 DE NOVEMBRO
20 HORAS
CINE EVEREST
LOCAL: SAMEST
RUA PICO DAS BANDEIRAS, 200
JD. EVEREST- HORTOLÂNDIA SP
MAIORES INFORMAÇÕES ACESSE:
www.cineverest.blogspot.com
REALIZAÇÃO: OCA
ORGANIZAÇÃO CULTURAL E AMBIENTAL
www.ocahortolandia.org.br
PARCERIAS: MINISTÉRIO DA CULTURA
SECRETARIA DE CULTURA DE HORTOLÂNDIA
SECRETARIA DE INCLUSÃO E DESENVOLVIMENTO SOCIAL DE HORTOLÂNDIA
O Filme
Pedro de Almeida, garimpeiro de 81 anos de idade, comanda como mestre de cerimônias o velório, o cortejo fúnebre e o enterro de João Batista, que morreu com 120 anos. O ritual sucede-se no quilombo Quartel do Indaiá, distrito de Diamantina, Minas Gerais. Com uma canequinha esmaltada, ele joga as últimas gotas de cachaça sobre o cadáver já assentado na cova: “O que você queria taí! Nós não bebeu ela não, a sua taí. Vai e não volta pra me atentar por causa disso não. Faz sua viagem em paz”.
Dessa maneira acaba o sepultamento de João Batista, após 17 horas de velório, choro, riso, farra, reza, silêncios, tristeza. No cortejo, muita cantoria com os versos dos vissungos, tradição herdada da áfrica. Descendente de escravos que trabalhavam na extração de diamantes, nas Minas Gerais do tempo do Brasil Império, Pedro é um dos últimos conhecedores dos vissungos, as cantigas em dialeto banguela cantadas durante os rituais fúnebres da região, que eram muito comuns nos séculos 18 e 19.
Garimpeiro de muita sorte, Pedro já encontrou diamantes de tesouros enterrados pelos antigos escravos, na região de Diamantina. Mas, o primeiro diamante que encontrou, há 70 anos, o tio com quem trabalhava o enterrou e morreu sem dizer onde. Depois disso, vive sempre em uma sinuca: para reencontrar o diamante só se invocar a alma de seu tio João dos Santos. “É um diamante e tanto, você precisa ver que botão de mágoa.” Ao conduzir o funeral de João Batista, Pedro desfia histórias carregadas de poesia e significados metafísicos, que nos põem em dúvida o tempo inteiro: João Batista tinha pacto com o Diabo?; O Diabo existe?; estamos sozinhos, ou as almas também estão entre nós?; como Deus inventou a Morte?
A atuação de Pedro e seus familiares frente à câmera nos provoca pela sua dramaturgia espontânea, uma auto-mise-en-scène instigante. No filme, não se sabe o que é fato e o que é representação, o que é verdade e o que é um conto, documentário ou ficção, o que é cinema e o que é vida, o que é africano e o que é mineiro, brasileiro.
Ficha Técnica
Título Original: Terra Deu, Terra Come
Formato de captação: DVC PRO HD e 16mm
Formato de exibição: HDCAM
Duração: 88 minutos
País: Brasi
terça-feira, 9 de novembro de 2010
PRÓXIMA QUINTA NO CINE EVEREST
QUINTA, 11 DE NOVEMBRO
O CINE EVEREST APRESENTA:
OS MATADORES
FILME NACIONAL
Sinopse do Filme:
Em um bar na divisa Brasil-Paraguai, um homem está para ser eliminado. Enquanto esperam o defunto encomendado, dois matadores, Toninho e Alfredão, revelam uma história em que é difícil encontrar culpados e inocentes. Presente e passado se misturam em torno da morte de Múcio, o pistoleiro mais competente da região, mostrando que matar ou morrer é uma fronteira fácil de se atravessar. Um chefe, uma bela mulher, um serviço a ser feito. O filme testa os limites da amizade, do medo e da traição. Quem traiu?
FICHA TÉCNICA
Diretor: Beto Brant
Elenco: Chico Diaz, Murilo Benício, Maria Padilha, Adriano Stuart
Duração: 90 min.
Ano: 1997
País: Brasil
Gênero: Policial
CINE EVEREST
RUA PICO DAS BANDEIRAS, 200
JD. EVEREST- HORTOLÂNDIA SP
O CINE EVEREST APRESENTA:
OS MATADORES
FILME NACIONAL
Sinopse do Filme:
Em um bar na divisa Brasil-Paraguai, um homem está para ser eliminado. Enquanto esperam o defunto encomendado, dois matadores, Toninho e Alfredão, revelam uma história em que é difícil encontrar culpados e inocentes. Presente e passado se misturam em torno da morte de Múcio, o pistoleiro mais competente da região, mostrando que matar ou morrer é uma fronteira fácil de se atravessar. Um chefe, uma bela mulher, um serviço a ser feito. O filme testa os limites da amizade, do medo e da traição. Quem traiu?
FICHA TÉCNICA
Diretor: Beto Brant
Elenco: Chico Diaz, Murilo Benício, Maria Padilha, Adriano Stuart
Duração: 90 min.
Ano: 1997
País: Brasil
Gênero: Policial
CINE EVEREST
RUA PICO DAS BANDEIRAS, 200
JD. EVEREST- HORTOLÂNDIA SP
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